sábado, 16 de abril de 2011

A Solidão do Treinamento Físico.

Sou um esportista por natureza. Sempre fui agitado e praticar atividades físicas me possibilita aplacar essa agitação. Dou graças às iniciativas dos meus pais, que começaram me estimulando através do meu primeiro esporte, a natação e depois no Judô e finalmente, por iniciativa própria, o Karate-do.  Certamente o corpo humano foi desenhado para o movimento. Uns tempos atrás o famoso e coerente Dr. Dráuzio Varella comentou numa entrevista sobre o “design do corpo humano”, que a musculatura, articulações, tendões, nervos entre outros são o conjunto ideal  para atividades físicas.


Quando iniciamos uma atividade física geralmente convidamos  amigos, com o objetivo de ter pessoas amigas ou conhecidas, ao nosso redor para nos estimular. Inscrevemo-nos numa academia, começamos a caminhar, nadar, lutar, suar com amigos, parentes, esposa, marido, namorada (o). Esse é sempre um bom início, um “start” para a nossa empreitada. Entendo que não é fácil para um sedentário sair de casa, do seu conforto, para se dedicar a malhação. A própria palavra já indica, na sua etimologia, um sofrimento.

Então porque malhar? Porque insistir no treinamento físico?

Porque é tão necessário quanto outros hábitos. E realmente funciona quando se torna um hábito, não uma obrigação. No decorrer da jornada de treinamento vamos perdendo as companhias por problemas de agenda (ou boa vontade), especialmente porque nossos colegas não conseguem enxergar a atividade física como um elemento importante na rotina.

Então devemos insistir na malhação, sozinhos. E quando olhamos para o lado não há ninguém. Apenas você perseverando com seus pesos, nadando, lutando, socando, chutando, correndo.

Esses dias, num lindo comercial da marca Olympikus, eles mostraram pessoas correndo sozinhas à noite, na chuva, de madrugada através das entranhas da cidade grande. Cada um no seu ritmo e...sozinhos e questionaram: Por quê?



Sim, é difícil encontrar parceria para tudo que fazemos na vida. É difícil conciliar gostos e sabores, imaginem uma atividade física. Por isso, muitas vezes estamos sozinhos na malhação. E não escrevo isso em tom negativo - e sim - para enaltecer o caráter nobre de se persistir no seu objetivo, ainda que sozinho. Isso constrói, amadurece e traz qualidade para o seu desenvolvimento físico. Tive centenas de horas, dias, meses em que treinei sozinho. 


Lembro-me que com 15 anos de idade estava competindo com Mountain Bikes. Então sofri um acidente no colégio e machuquei o Menisco. Fiquei com a perna imobilizada, por um tempo e impossibilitado de treinar.

Quando voltei, lembro-me de não conseguir empurrar e puxar o pedal da forma correta, com força e velocidade. Então ia pedalar na estrada entre cidades próximas, na faixa para evitar novos tombos. Sem força – empurrava a perna com o braço. Sempre sozinho.

Naquele ano, me recuperei e consegui ser Campeão Estadual juvenil de Mountain Bike.


Ainda nessas passagens lembro que, ainda na adolescência, por alguma razão, fui proibido de andar com a  bike enquanto minhas notas não melhorassem na escola. Infelizmente havia uma competição marcada, na minha cidade e em pleno domingo de manhã. No dia, saí de manhã cedo para a competição, corri de bike, me sujei todo, venci e voltei voando para casa. Tomei um banho, roupa limpa e machucado, porém fui encontrar meus pais. 

Não comentei da competição, pois eu “deveria” estar de castigo de pedalar. Na segunda-feira de manhã, para minha surpresa uma matéria no jornal da cidade com uma bela foto minha pedalando. Não tive punição, pois afinal tinha vencido a prova e era algo saudável. Mesmo assim ficou o mal estar. 

A vontade de treinar, competir e envolve-se com uma atividade física é sempre solitária. E mais consistente, quando tomada sozinho.

Muitas vezes, tenho que treinar Karatê sozinho. Procuro me observar e corrigir - brigo comigo mesmo - repito centenas de vezes um movimento até chegar próximo do ideal.  E isso requer um tempo - solitário - para surgir às questões que irão qualificar o treino e a forma. Os "insights" da psicanálise ou "satoris" do Zen.

O treinamento físico é um desafio individual. A evolução conquistada será única e exclusivamente sua. Os ganhos e perdas físicos e calóricos serão seus. O músculo tem uma memória e cada dia que você treina envia a mensagem de esforço ao seu sistema físico. Força, agilidade, equilíbrio, coordenação, explosão entre outros crescem com o seu treinamento. Seu temperamento é domado, sua vontade testada e sua convicção de estar no Caminho certo é reafirmada a cada treino e dia vencido.

Sou a favor de se levar a atividade física - por vezes - ao extremo. Impor-se limites maiores e mais desafiadores. Não acredito em atividades físicas onde não existe suor e um pouco de dor. Sei que educadores físicos, médicos e fisioterapeutas (mais carolas) poderão discordar da minha opinião. E entendo o ponto deles. Entretanto sempre tive a atividade física com a intenção de fortalecer meu lado fraco, de cultivar o espírito de lutador que é da minha essência. 

E dentro disso o suor, dor e privação encontram-se sempre presentes.

Tenho certeza que o avanço da idade e das minhas demandas pessoais e profissionais vão me limitar, no futuro. Tenho certeza que os avanços físicos serão menores, e as dores maiores, porém também tenho certeza que irei persistir nos treinamentos, dentro da condição que for.

Na vida sempre  recebemos pequenas mensagens que o Universo nos oferece. A solidão do treinamento físico tem muito a ver com as solidões que temos que suportar na nossa vida. E partes das mesmas nos oferecem a oportunidade de crescermos, de amadurecermos como seres humanos. A solidão é vista de forma negativa por muitos e até assustadora para alguns - todavia pode ter o caráter de reflexão para a produção de coisas positivas no futuro. Afinal, cada um de nós tem uma vida única, como se fosse um livro original, de única edição.

Quando treinamos em noites escuras, em salas vazias, nas madrugadas onde somente os pássaros são a nossa companhia. Quando corremos na rua e começa a chover, ventar, fazer frio a ponto das mãos congelarem, quando percebemos que talvez a melhor coisa fosse desistir e voltar para casa...então olhamos para o lado e não temos ninguém...finalmente...

Percebemos que não estamos sós.

Percebemos que não existe melhor companhia, para alguns momentos, que nós mesmos.





Sobre Endorfina:


domingo, 10 de abril de 2011

Tipos de Pessoa


Meu avô classificava as pessoas em dois tipos: as que ajudam e as que atrapalham. Ele era um sujeito pragmático, militar aposentado. Sempre que me deparo com pessoas desses dois tipos me lembro do que ele dizia.

As pessoas que atrapalham são aquelas que por acidente do destino, jeito de ser ou mesmo vontade de ferrar os outros não colaboram com nada. Algumas são verdadeiros “buracos negros” que absorvem a energia de tudo (e todos) ao seu redor. A medicina oriental tem uma boa explicação para esse tipo de energia  - porém não vem ao caso citar agora, o texto ficaria muito extenso. Em outra ocasião, eu escrevo sobre isso.

Essas pessoas que “atrapalham” geralmente sentem prazer em falar sobre desgraças. Reclamam da vida, dos outros, da sua saúde e justificam a sua preguiça com as mais variadas teorias. Colocam a culpa nos outros pelos resultados que colhem, pelas suas faltas e dores.

Também são péssimos motoristas, daqueles que andam nas estradas transitando na faixa da esquerda a 80 km/h (respeitando a legislação, porém...) e não deixam ninguém ultrapassar com a justificativa que estão “na lei”. Não tem pressa e não se importam com isso. E no trânsito vemos muito essa manifestação de pessoas que atrapalham. Outras estacionam seus veículos no meio de uma vaga que caberiam dois carros. Ou ainda não se importam de fumar e falar ao celular enquanto o semáforo está aberto e dezenas de motoristas estão esperando que o indivíduo arranque seu carro.

As pessoas que atrapalham são carentes afetivas ao extremo. Querem chamar a atenção dos outros, procurando serem elementos que “interferem” em algo na vida de alguém. Não tem consciência de cidadão ou mesmo de sociedade, onde vivemos em grupos para nos fortalecer e vivermos melhor e com mais segurança. São egoístas e não prezam pelo próximo. Pessoas que atrapalham também são terríveis parceiros afetivos, pois conseguem criar situações onde o outro acaba tendo que servi-lo como se fosse um escravo.

Pedem, pedem, pedem e oferecem muito pouco em troca. Também existem no âmbito familiar: são aqueles parentes que nunca te ligam, nem em aniversários, porém quando precisam de algo lembram seu número. Sim, geralmente as pessoas que atrapalham são interesseiras - pensam somente no seu bem estar.

O mestre Dalai Lama, no seu livro “A Arte da Felicidade” um dos seus primeiros Best-sellers narra que acredita que não existem pessoas más. Diz que a essência das pessoas é boa e por isso sempre trata a todos com piedade. Que os atos negativos de uma pessoa seriam fruto de péssimas experiências e estímulos negativos do ambiente que cresceram. É uma teoria e forma de perceber os outros, creio que seja a ideal. Infelizmente eu não consigo visualizar isso no dia-a-dia.

 Acredito que existem pessoas que são más em sua essência e demonstram isso quando atrapalham os outros. Quando não respeitam a liberdade do próximo e pensam ser o centro do universo. Pessoas que atrapalham pensam demais nos seus problemas, e em como solucioná-los, sem perceber que se pudessem se doar mais ajudando o próximo, estão se permitindo evoluir.

Atualmente existem males psicológicos das mais diversas espécies todos devidamente catalogados. Muitas das “pessoas que atrapalham” acreditam sofrerem de males dessas espécies.

Entretanto já identifiquei em vários indivíduos sintomas psiquiátricos sem os mesmos terem a patologia. E percebi que esses sintomas eram fruto do temperamento e forma de agir perante o mundo, sem generosidade. Sem cortesia. E a falta disso causa doenças sérias em longo prazo.

De nada adianta em campanhas do agasalho dar uma peça de roupa ou doar comida uma vez por ano e achar que está “fazendo a sua parte” e durante o ano sacanear as outras pessoas, diariamente.

Essa atitude de não ajudar os outros e não ser responsável por aquilo que  faz está incutido também na religião. Nos católicos, por exemplo, quando cometemos um pecado, basta ir se confessar com o padre e receber a penitência (ex.: 10 aves Maria) e você está livre para pecar novamente! Então o individuo faz várias sacanagens ao próximo durante o ano, se confessa e diz que se arrepende, é perdoado pelo padre e pode voltar a pecar? É isso que está implícito na penitência rápida.

Somos responsáveis pelo que fazemos na nossa vida e cada ato negativo repercute em nossas vidas.

Todavia existem as “pessoas que ajudam”. São pessoas educadas, generosas, alegres e que se dedicam para viver bem e deixar os outros a vontade. São bons cidadãos, respeitam as regras de trânsito colaborando com o andamento do fluxo na cidade e estrada, cedem um assento no ônibus para mulheres, respeitam a pressa do próximo cedendo lugar, evitam confrontos familiares e afetivos.

No Japão antigo existia uma classe de guerreiros chamada “Samurais” que significa “aquele que serve”. Viviam para ajudar e quando não podiam honrar esse lema não era mais necessário viver.

 Ajudar o próximo, ser prestativo, gentil e honrado é uma forma de homenagear o Universo. Veja bem, temos tudo na natureza em abundância e não nos é cobrado nada em troca disso. Temos ar, sol, terra, água, plantas, comida, mar, céu, corpo entre outros. Se o Universo nos oferece coisas em abundância qual seria a mensagem contida nisso?

 Ajudar o próximo é um exercício diário. É uma forma de limpar a sua “barra” com o Universo. No momento que ajudamos, estamos fazendo as energias fluírem e as coisas andarem como deveriam. Não deixamos o caos tomar conta porque não cedemos a impulsos mesquinhos e negativos. Quando ajudamos um amigo, um ente querido, um colega de trabalho, uma namorada (o) ou esposa (o) estamos colocando as coisas no lugar.

Infelizmente as vezes queremos ajudar os outros, oferecendo uma "mão" e logo, algumas pessoas querem o "braço". Queremos dar uma força, colaborar e logo vem os abusos. Por isso muita gente passa de "gente que ajuda" para ser "gente que atrapalha". Ajudar é ótimo porém quando o fazemos para gente que atrapalha, entramos num buraco negro. Onde nossa energia será sugada. 

Há tempos atrás estava lendo um livro de Neurolingüística chamado a “A Lei do Triunfo” e nele o autor coloca que podemos educar nossos próximos a serem pessoas mais prestativas. Uma das maneiras é quando uma pessoa te agradece um favor. Já notaram o que respondemos? Geralmente é assim “obrigado” e a outra pessoa “de nada”. Ora, de nada? Como assim? Quer dizer que você não fez esforço nenhum ou se dedicou um segundo que seja a ajudar? Não é verdade! Você fez algo para ajudar. Então o autor sugere o seguinte diálogo: “obrigado” e a outra pessoa “tudo bem, não fiz nada que você também não faria por mim”. É outra perspectiva mental e forma de colocar o seu esforço.

Felizmente podemos perceber que a nossa sociedade é construída no esforço de pessoas que “ajudam”. Essas pessoas foram políticos influentes, lideres espirituais, bons profissionais e indivíduos que são sempre lembrados com carinho. São heróis de guerra, atletas e pessoas que fazem a diferença onde estão. Fazem a diferença única e exclusivamente pela dedicação em serem pessoas que ajudam, sem atrapalhar.

E você? Está ajudando ou atrapalhando no seu mundo?
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