Inspirado na antiga lenda de um samurai, o jardim japonês virou significado de equilíbrio e harmonia, tanto no Oriente quanto no Ocidente. A história que teve origem no Japão e foi difundido mundo a fora é a seguinte: um jovem samurai resolveu abandonar a escola e seguir o caminho do mal. Seu mestre tentou fazê-lo mudar de idéia e, sem sucesso, foi obrigado a desafiá-lo em uma luta: era sua missão.
A experiência e equilíbrio do mestre foram decisivos para vencer o duelo e matar o jovem.Quando chegou a notícia da morte do aluno na escola, houve uma comemoração em massa, que foi interrompida pelo vencedor da luta. Indignado, o mestre ordenou que todos os alunos preparassem o jardim da casa do samurai, em homenagem ao ex-aluno. O trabalho foi realizado com ferramentas rústicas, e as pedras, utilizadas em número ímpar, foram deslocadas com a força dos braços.Para os japoneses, estas pedras significam as adversidades e o respeito. A idéia foi transportada para uma caixa, onde o "jardineiro" pode exercitar seu equilíbrio e refletir. A reflexão sobre os nossos atos, sobre a nossa prática e consequências das mesmas é uma constante busca pelo equilíbrio. .
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Assista abaixo a entrevista com Mestre Tokuda, sobre o Zen Budismo e Artes Marciais:
Desde cedo, pratico e pesquiso maneiras de potencializar os resultados das atividades físicas que me proponho a treinar. Pratico karatê, natação, corrida, musculação e ciclismo. Já pratiquei boxe, jiu jitsu, escalada entre outras tantas atividades que me pudessem me trazer prazer e desafio (e um pouco de endorfina).
Nenhuma se compara com o Karatê.
E isso não é uma constatação de um praticante apaixonado, é uma conclusão baseada em fatos. Nenhuma atividade consegue envolver tantas musculaturas, tendões, ossos, nervos, variação respiratória, explosão, força, velocidade entre outras. A integração da mente com o corpo ocorre de forma natural e os nossos bloqueios e limitações são rompidos um por um a cada treino. É uma forma de reconstrução da nossa estrutura fisiológica e mental.
Já tive períodos que havia parado de praticar e continuei fazendo outras atividades físicas de forma intensa e quando voltava a treinar karatê sentia dores em musculaturas que ainda não estavam sendo trabalhadas mesmo com o meu crosstraining de esportes.
E como isso acontece?
Para os japoneses a forma de avaliar se alguém é saudável é olhar da cintura para baixo – a sua base e sua forma de caminhar. Já no ocidente temos a tendência a olhar da cintura para cima. Então surgem as diferenças e o ponto onde nasce o fortalecimento do corpo através do karatê: as posturas. Para que as técnicas sejam executadas com rapidez, precisão, força e suavidade, a postura deve ser firme e estável.
No karatê são dezenas de posturas onde as variações de ângulos de pés, joelhos, pernas e todo o conjunto dos membros inferiores são trabalhados desde a faixa iniciante. O próprio andar humano já é um desafio a gravidade onde projetamos nosso peso a frente causando um desequilibro e voltando a nos estabilizar através de um jogo dinâmico de apoios e centro de equilíbrio corporal. Porém como tudo no karatê o objetivo é ir além.O objetivo dessas posturas é tirar o praticante da sua zona de conforto ir além de um simples movimento. O deslocamento de um lutador de karatê é diferenciado, seus pés são raízes que podem a qualquer momento se transformarem em folhas suaves em contato no solo. A postura das pernas pode variar para qualquer direção e ainda manter o praticante estabilizado.
Essa estabilidade tem função direta no combate. Porque não podemos nos preparar fisicamente para uma luta pensando que iremos atacar e defender em linha reta para frente e trás e somente de pé. Temos que estar prontos para eventuais improvisos de posição, possíveis irregularidades no terreno e deslocamentos efetivos sob qualquer ângulo de defesa e ataque. Por isso é exigido tanto da base de um karateka.
Passamos para o quadril que diariamente usamos quase de forma “robótica” – duros e tensos. No Karatê o quadril ganha movimento de rotação (entre outros). E isso fortalece o abdômen, as costelas, as ligações da coxa com o fêmur e os músculos que envolvem as articulações das pernas. Meu professor sempre nos lembra dos quatro fatores que envolvem os movimentos do karatê:
Pressão: contato com o solo
Rotação: o giro que o quadril e outros membros podem fazer durante o movimento
Vibração: pequenos movimentos de todo o corpo visando maior poder de impacto
Deslocamento: o movimento dinâmico de avançar/recuar em qualquer direção
E temos também a respiração - porém sobre isso pretendo escrever num tópico especial.
Por exemplo, quando praticamos um kata temos a possibilidade de verificarmos com clareza todos esses conceitos aplicados. O Kata não é simplesmente uma forma de luta contra vários adversários, é também, uma forma de exercício. Tanto que muitos movimentos foram criados com esse intuito, fortalecer o praticante. Uma forma solitária de treino disponível em qualquer lugar e tempo que o indivíduo se dispuser a treinar. E com a correta postura aliada ao conjunto superior do corpo temos a busca da sincronia de movimentos no karatê. Todo praticante de karatê acaba se tornando um estudioso do seu próprio corpo visando atingir a sua alma. Através do suor da prática, das dificuldades motoras, da superação e do desafio constante que o karatê promove, o indivíduo está no caminho de descobrir a si mesmo.
E o que buscamos com toda essa movimentação corporal? Uma simples ginástica? Não! Todo o envolvimento da prática é a busca do Kime (foco). O poder de uma defesa ou ataque está no Kime.
De nada adianta o praticante se movimentar como se estivesse dançando ou estrategicamente jogando com seu corpo se o resultado final de uma técnica não tiver Kime – A energia final com foco. No karatê não existem mistérios ou coisas que não possam ser atingidas, e o kime é a forma mais efetivo de representar o poder físico e mental de um praticante. Em outras atividades físicas os movimentos podem ser similares, porém o Kime é que nos torna diferentes. E no Kime que repousa o grande benefício ao nosso organismo e do nosso fortalecimento físico e mental. É a busca do Kime que nos faz conhecer tantas posturas, tantos movimentos físicos e concentração. É através do Kime que crescemos e amadurecemos como praticantes e seres humanos.
Todo benefício físico do Karatê só pode ser sentido através da prática constante. Um movimento leva a outro e a outro ainda mais difícil. E na evolução do treino que sentimos o nosso fortalecimento e contato com um rico e diferente universo. Porque o Karatê-dô vai além do esporte, onde a competição e respostas são buscadas fora do indivíduo, no Karatê-dô existe um diálogo interno.
Uma vez, quando era faixa colorida e treinando forte após duas horas de treino, fiquei chateado com a quantidade de correções exigidas pelo meu professor. Imaginei “quando” chegaria num estado onde ele não me corrigisse mais ou me perguntei se ele não estaria de “implicância” comigo. Tomei coragem e resolvi questioná-lo (de forma respeitosa) após o treino. Tenho muita sorte do meu mestre – apesar da disciplina que nos impõe – ser uma pessoa aberta a esclarecer as dúvidas e disposto a interagir com seus discípulos. Num passado, não muito remoto, professores nem responderiam as perguntas dos seus alunos (por ignorância) ou diriam:
“- Treine, um dia você irá entender”.
Felizmente esse não é o caso do meu professor, que já teve as mesmas dúvidas e não se omite em responder as questões mais absurdas dos alunos. Fui e perguntei: “- Sensei Malheiros, chegará um dia que eu não serei mais corrigido? Que terei um movimento perfeito?”. Ele de forma paciente me olhou e respondeu: “- a perfeição é algo estudado pela filosofia há séculos. É uma utopia humana algo que sabemos ser inatingível. Porém... temos que tentar certo?”
É o que nos resta. Tentar e nos beneficiar dessas tentativas, erros e acertos dentro do Karatê-dô.
Me impressiono com a capacidade do ser humano em agir de forma teimosa e egoísta. Somos o que podemos ser, não precisamos mudar nada, porém a mudança é inevitável, senão ainda andaríamos de quatro, como macacos.
E pior: não ouvindo, não vendo e não falando (veja figura acima). Porém fingindo que pensa. Se podemos evoluir em muitos aspectos, a pergunta seria: para que evoluir? para que mudar?
A resposta é simples: para melhor conviver com as diferenças!
E dentro delas usufruir de tudo de bom que as características de cada pessoa oferece. Usar o bom humor é fundamental, estudar para abrir a mente é vital, treinar o corpo e o espírito para se fortalecer é essencial. Crescer não implica na perda da inocência e do afeto, crescer serve para tornar mais fácil e efetivo o que temos dentro do nosso coração. A vida pede por crescimento (e evolução) e quando rejeitamos esse convite, logo o Universo se encarrega de nos colocar no nosso devido lugar, seja através de privações ou desafios pessoais, seja atráves da dor.
Evitar o óbvio - a mudança positiva - é ir contra a natureza humana. Manter o melhor no seu coração, bons pensamentos e ações, saúde e alegria é o mínimo que podemos fazer nos processos de mudança. O Caminho de cada um se define através das nossas ações. O tempo passa rápido e é ótimo olhar para trás, com orgulho de ter construído relações sólidas, evoluído como ser humano e fazer a diferença. Não somente para os nossos, como para todos que usufruem da nossa presença.
Existem pessoas que justificam a sua forma de ser como sendo algo imutável, como se estivesse determinado no DNA (assim como doenças que podem estar inseridas na cadeia genética). Traços de personalidade, angústias, temperamento forte (e ser mimado) não são traços genéticos, e sim características adquiridas. Outros colocam a responsabilidade da sua felicidade em cima dos outros, querendo estabelecer um "contrato" onde o próximo deve cumprir inúmeras cláusulas da felicidade do próximo, baseadas em muitas frustrações passadas, oferecendo o mínimo ao próximo. Oras, a sua felicidade depende única e exclusivamente de você!
Outros ajudam? sim. O próximo determina o quanto você será feliz ou infeliz? não.
A compreensão com o temperamento do próximo é um ato de amor e paciência. O entendimento sobre o tempo de mudança das pessoas que nos cerca é o mínimo, que podemos fazer, pelos nossos amigos e entres queridos. É disso que, talvez, Jesus tenha falado: "ofereça a outra face". Uma metáfora, não no caso de se deixar levar tapas na cara a toda hora, porém em ter paciência e respeito com o tempo - e mudança - de cada um. E quem não quer ou não vai mudar? não irá evoluir será um sugador da energia de tudo e todos ao seu redor. Terá mágoa e inveja dos outros, por causa da sua própria fraqueza.
Viver de passado e pensar que no futuro as coisas serão diferentes? Futuro e passado não existem. Somente o "presente" (a dádiva do agora) é que vai fazer a diferença. Faça o bem agora, sirva o próximo e conviva da melhor maneira, nem que para isso tenha que abrir mão das suas idiossincrasias, no final você verá que valeu a pena!