sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O labrador e eu

Época de virada de ano, pausas para reflexões, tempo para relaxar por alguns dias. Algumas pessoas na cidade e outras na praia – o meu caso. Sigo uma rotina na praia, intercalada de treinos e pausas para não fazer nada. Outros momentos para conviver mais com as pessoas que amo, minha família. Também aproveito para refletir e planejar o que posso melhorar no meu Caminho. 

Então, num dia desses, estava cedo na praia para aproveitar o mar e o sol. Eis que me bate uma rara melancolia, um pensamento estranho, me fazendo perceber que eu estava sozinho e que isso não era bom. Eu gostaria de ter uma companhia, naquele momento, alguém para trocar uma ideia ou apenas estar perto. Não tinha - não era o caso naquele dia.

Eis que, do nada, surge um labrador. Um tanto estranho aquele elemento na nossa praia, pois é proibido cachorros na areia e existe certa patrulha privada a respeito. Aliás, em 15 anos de praia, no mesmo local, jamais havia visto um cachorro ali.
Então, o cachorro olha para mim e, como se percebesse meu pensamento, se aproxima. Baixa a cabeça, enquanto eu, automaticamente, estendo a mão e faço carinho nele. Converso com o bichinho e pergunto onde está seu dono, ou o que ele faz ali na praia. Ele parece me entender e fazer um olhar triste. Percebo alguns machucados na cabeça dele, já secos e velhos, sinais de alguma briga com outros cachorros ou coisas do gênero. Ele senta ao meu lado e logo deita, com a cabeça entre as patas.

Imagino que ele deve ter se perdido de alguma família rica; que, por não saber se virar na rua, deve ter apanhado de outros cachorros, enquanto procurava por comida; que estava abandonado na praia. Sozinho.

Apesar de muitas pessoas ao redor, ambos nos sentíamos sozinhos e, naquele momento (juntos), tínhamos alguém. Não estávamos mais sozinhos. Outras pessoas pareciam não enxergar o cachorro comigo, deitado ali. Então, fiquei passando a mão na cabeça dele, me deitei e dormi. Quando acordei, ele havia ido embora, meu companheiro de praia já não estava mais por perto. Fiquei pensando se eu havia sonhado. Olhei ao longe, na costa da praia, e enxerguei um rabo abanando ao longe. Era ele: o labrador.


Algumas pessoas têm uma relação (mais que) afetiva com animais. Outras acreditam que eles possam ser anjos que nos fazem companhia, em momentos que precisamos, na nossa curta jornada aqui na Terra. É verdade, animais são criaturas especiais, embora muitos não percebam isso.

Por um breve espaço de tempo, aquele labrador levou minha tristeza embora. E creio que eu passei um pouco de conforto para ele. O que podemos esperar mais numa relação? Nunca mais encontrei aquele cachorro. Talvez fosse um anjo. Talvez somente eu o tenha visto. Ficou um pouco dele e levou um pouco de mim.

Fique com Deus, meu amigo e obrigado.



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