segunda-feira, 11 de junho de 2012

O singular sentimento do amor - Parte I

Resolvo escrever sobre um tema tão interessante e amplo, que jamais pode se esgotar em um texto, através de simples palavras. Lidar com ele é, então, um exercício de expressão, para o que não se acaba, não deve se acabar no escrito, mas deve se renovar constantemente, na vida. 

Trata-se exatamente desse sentimento para o qual a espécie humana dedicou gerações de contos, poesias, óperas, pinturas, livros e histórias e que nos faz acreditar que podemos ser melhores “por” e “para” alguém. 

Faz-nos crer que somos especiais e diferentes de outros animais, apesar de, muitas vezes, agirmos instintivamente a respeito desse sentimento.

A definição de amor é extensa, podendo variar desde afeição, compaixão, misericórdia ou, ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém. E é sobre este vínculo que pretendo discorrer, a partir das minhas limitações e da visão que tenho sobre o tema.

Os mais céticos, ao falarem sobre o amor, poderiam convencionar que o mesmo diz respeito a apenas uma “fórmula” evolutiva da espécie, para justificar a congregação de pessoas, a reprodução e proteção da prole, tendo em vista as agruras de um ambiente hostil desde os primórdios da civilização. Apesar da tentação de querer simplificar o assunto e torná-lo o mais racional possível, é pouco provável que seja somente disso que se trata o amor. 

As referências são muitas, nesse campo; porém, a principal se dá no âmbito das sensações humanas diferenciadas, quando se encontra alguém que, aos seus olhos, faz a diferença.

Essa diferença não se dá somente aos olhos, porém ao olfato, audição e tato. O tom de voz, a forma dos movimentos e a relação da pessoa com a vida atraem de maneira especial. Alguns conseguem definir como uma vontade irresistível de estar com essa pessoa ou, ainda, uma sensação de conhecer a tal pessoa há anos, quando na realidade, muitas vezes, o relacionamento é recente, tem apenas poucos dias ou meses. Ainda assim, a vontade de ficar junto é maior que qualquer racionalidade. Eis que nos indagamos do que se trata essa vontade? 

Muitos definem isso como “paixão” e justificam que o mesmo acontece antes do “amor” e que haveria certo ordenamento sentimental para os eventos. É possível.  Só que tão improvável como o amor acontecer subitamente é que exista uma ordem e intensidade que possa ser medida e definida como uma palavra ou outra. Irei simplificar e chamar tais sensações como “amorosidade”, ou seja, um estado de “amor”.

Uma boa definição da forma como o amor pode acontecer está no conceito grego do mesmo, que reduz a essência do amor a três nomes: Eros, Philia e Ágape (saiba mais, clicando aqui).

Contudo, gosto de acreditar que todo amor surge de uma grande amizade. O amor pode nascer da simpatia por alguém (É o que a autora Maria Luiza Cardinale Baptista chama de “amoramizade”) e pela vontade que temos de compartilhar questões e sonhos com esse alguém. Existe também a chamada “química” entre duas pessoas que se trata da sintonia desde pensamentos, cheiros e toques de pele. 

Em contrapartida, planejar o amor e idealizar a pessoa amada é o mais próximo possível de criarmos frustrações pela expectativa do irreal. Afinal pessoas são falíveis e propensas ao erro, ainda que bem intencionadas, podem cometer deslizes. Saber como contorná-los e a perspectiva que iremos dar a essas falhas é que define o quanto estamos preparados para amar alguém.  Nesse ponto, entra o perdão e a doação. Sem o perdão e um amor fraternal pelo próximo, jamais poderemos amar plenamente. Um grande e incompreendido filósofo disse: “ama o outro como a ti mesmo” ou, ainda, “oferece a outra face”. Talvez ele estivesse dando a fórmula de sucesso para o amor entre duas pessoas. Respeitar as diferenças e acreditar que vale a pena doar-se para isso fortalece o verdadeiro amor. 

Amar é querer o melhor para o parceiro(a). Comemorar suas vitórias, consolar e dar a mão nas derrotas e aconselhar as dúvidas. Encontrar soluções, construir o diálogo. Por vezes, ainda que a felicidade do próximo seja longe de você, a decisão de abrir mão de alguém pode também ser um ato de amor. 

Óbvio que, ao longo das nossas vidas, acontecem escolhas mal feitas e frustrações, pela idealização irreal de um amor que nunca existiu. Elas geram correções e nos fortalecem, para escolhermos melhor, na próxima vez.

E quantas vezes podemos amar numa vida? 

Poucas. No meu caso, amei com intensidade, porém poucas. Como é típico do ser humano, as mulheres que amei eram pessoas imperfeitas. Meu interesse e encanto estavam ligados justamente a essas características de imperfeição delas. Ainda que belas (ao seu modo), inteligentes, educadas, carinhosas (ou não), todas tinham defeitos, sendo que essas nuanças de personalidade é que as transformavam em pessoas especiais para mim.

Ainda que uma pessoa possa ser especial, quem não pode enfrentar a realidade externa, como se espera do indivíduo pleno, com coragem e valor, talvez não possa amar alguém imperfeito. E para que (ou quem) vale ser perfeito? se mudamos pelo outro acabamos nos deformando. 

E nesse ponto residem outras dúvidas dos amantes: é possível mudar por alguém? As pessoas mudam? Sim, acredito que é possível mudar, mantendo a essência daquilo que você já é. É possível você se tornar o que realmente você é, para melhor conviver com alguém. 

Deixar de aspirar ou interpretar um personagem, para se tornar “o melhor” dentro daquilo que você mesmo é. Descobrir-se e abrir sua mente e conduta para si mesmo, independente do que os outros possam achar ou julgar. Nisso reside o verdadeiro ato de amor: servir ao próximo. Estar disponível e aberto para enfrentar as dúvidas, tormentas, alegrias, conquistas, sonhos e vida plena de erros e acertos junto com alguém.

E quem não sentiu, quer os ardores da desilusão assim como o prazer de uma efetiva conquista?  A dor (e algumas sensações decorrentes da mesma) virá de qualquer maneira, quer a gente ame ou não.

Somos todos passageiros nessa curta vida e que de pouco valerão os julgamentos que fizermos sobre o alheio, ainda mais com a arrogante expectativa de que poderemos ser melhores (ou somos), sem desenvolver qualquer esforço para sê-lo.  Julgar toda a vida o outro, para só fazê-lo a ti mesmo no final da vida é um erro para quem quer amar plenamente.   

Somente é possível viver com o outro - e pelo outro. 

O egoísmo mata em vida seu portador, como o câncer mata a si mesmo matando o corpo em que vive. A coragem é daqueles que agem, ainda que com medo, mas certos de suas convicções. É preferível viver talvez nos pântanos terrestres ou talvez num oásis, mas com os pés na terra, sentido o odor da realidade. E nesse ponto você pode sempre mudar a sua história, se reinventar e acreditar que vale a pena investir e abrir a sua vida para alguém especial. 

Para isso é tão importante o conceito de amorosidade, que é “uma condição humana elevada, aproxima as pessoas do conjunto de virtudes, pois nela estão incluídos o cuidado, o respeito, a confiança. A amorosidade é bela, boa e verdadeira.” (Eugenio Mussak). E plena. 




Aqui vale também o que diz Maria Luiza Cardinale Baptista: “O amor precisa ser calmo, precisa ajudar a dar paz, a resgatar a sensação de plenitude, de aconchego, de confiança plena, de possibilidade de desnudamento, pleno, sem medo, sem constrangimento.”

A amorosidade envolve a prática de expressar o amor em tudo que fazemos e a todos com que nos relacionamos. Significa que não temos somente interesses pessoais envolvidos, idealizando o parceiro(a) ou que não estamos interessados na possível condição financeira ou de status do mesmo. Significa que podemos amar plenamente alguém, pois o ato de amor está em tudo que fazemos, desde o trabalho, estudo, cuidado com a saúde, relações amigáveis, entre outros. A amorosidade trata de romper com o orgulho e vaidade, em prol de algo muito maior, que podemos acreditar se tratar do singular sentimento do Amor. 

Por isso, fica a sugestão de orientação para a vida: ame-se e ame muito. 




Revisão de texto por PazzaComunicazione.