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Temos atração natural por heróis e vilões, e acompanhar o arco de personagens nos dá prazer e entretém, fazendo-nos absorver “o poder do mito” (saiba mais no livro de Joseph Campbell).
Surgiu em 2018 uma série independente chamada “Cobra Kai” baseada na trilogia dos filmes “Karatê Kid” de 1984. Porém a mesma só teve ampla divulgação agora em 2020, graças a entrada no catálogo da plataforma Netflix tornando-se um sucesso de público e causando repercussão aos saudosistas dos filmes originais e grata surpresa a um novo público que desconhecia o Karatê-Dô como Arte Marcial. Novamente, graças ao cinema vira-se o foco para essa atividade que vai muito além da parte física ou de defesa pessoal, tornando-se uma poderosa ferramenta de desenvolvimento pessoal.
Percebemos de imediato na série o desastroso poder do Bullying (é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas) nas vidas de todos os personagens. Na obra de ficção, não existem seres perfeitos ou vidas que possam ser julgadas, tampouco quem não esteja buscando a redenção dos seus erros presentes ou cometidos no passado.
No caso, o Karatê-Dô apresentado em duas formas diferentes, transforma vidas e eleva a autoestima dos personagens, inclusive dos próprios instrutores. Essas vias e forma de ver o “método” são diferentes trilhas que, em fato, querem levar o praticante ao topo da montanha. Porém como toda a trilha, tem terreno acidentado, pedras, aclives e declives e muitos acidentes de percurso.
A falta de um mestre genuíno para ambos os instrutores (Daniel
e Johnny) induz ao método tentativa-erro-acerto de forma intuitiva, através de
treinamento prático que as escolas ofereceram aos dois e que, pela narrativa
eles passam a oferecer a novos alunos. No Caminho das Artes Marciais, a falta
de um “norte” ou estudo com muita prática e reflexão sobre o que se é ensinado
pode causar o efeito reverso do que é pretendido, tornando a vida de quem
pratica e ensina um caos. Por isso, ter um mestre (ainda que seja um instrutor
graduado) é fundamental para manter o foco positivo, desse poder que se está
lidando.
O estilo Cobra Kai é mais agressivo, prático e esteticamente forte. O estilo Miyagi Dojo mostra-se forte, filosoficamente correto porém confuso na aplicação diária. Ambos os estilos fazem parte de uma mesma moeda, com duas faces. Na origem do Karatê-Dô não haviam “estilos” diferentes, eram um todo igual, diferenciado apenas pelo método de ensino de cada Sensei. Por motivos mercadológicos, foram nomeados estilos e distanciados os praticantes em grupos distintos, como se fossem outras escolas.
O desafio de ambas escolas da série é atingir o equilíbrio. É o mesmo desafio que todo praticante de Karatê-Dô tem, juntamente com um instrutor de qualidade. E irá depender muito de quem ensina para chegar a esse ponto, por isso, um verdadeiro Sensei deve praticar com afinco, testar e estudar diariamente o que ensina dando valor aquilo, não pode ser apenas um “hobby” ou ser visto como um “trabalho” e sim uma vocação que gera um legado.
A humildade sem submissão, ter respeito ao adversário e misericórdia, sem perder o foco da completa anulação do ímpeto do inimigo.
A
escola Cobra Kai da série precisa aprender com o Miyagi Dojo e vice-versa e criarem
algo novo, baseado no antigo.
O Karatê-Dô não se presta a ser algo meramente esportivo ou apenas simbólico, é uma poderosa ferramenta de empoderamento (passar a ter domínio sobre a sua própria vida) e foi criado com técnicas que podem ferir gravemente uma pessoa. Infelizmente, se mal aplicado poderá ferir o próprio praticante e se mal instruído, pode ter consequências desastrosas. O poder envolvido numa Arte Marcial genuína cobra um preço, para o bem ou mal. Isso se aplica também e principalmente a quem ensina, pois esse domínio de técnicas e poder poderá projetar sua vida para coisas positivas ou destruí-lo em rancor e mágoas desnecessárias no processo de amadurecimento da faixa preta.
Querer livrar-se de um problema é o que todos desejamos,
ainda assim, o Caminho do guerreiro (Budô) mostra que nós temos uma “oportunidade” de transformar um problema em solução e não destruí-lo. E assim precisa ser no trato com um adversário.
Golpear antes, golpear forte e não ter misericórdia, no caso, transforma-se em uma única expressão: estar atento. Consciência do seu estado mental e físico e do adversário, do seu espaço e ações. Buscar a naturalidade nos movimentos propagado pelo Miyagi Dojo, transforma-se em outra única expressão: sinceridade eficaz. O equilíbrio entre escolas tão distintas é algo difícil de alcançar e requer muita disciplina e sacrifício pessoal, sendo uma jornada solitária, ainda que esteja em grupo ou conduzindo por alguém. Nenhuma espada de aço se forja sem passar por várias etapas, por altas temperaturas e muita energia aplicada. Nenhum guerreiro se forja sem encontrar forças, que jamais saberia que tinha, sem o autoconhecimento através do Karatê-Dô.
Seria a diplomacia a solução para tudo?
Nem sempre irá funcionar! Por vezes, teremos que ser duros mesmo com quem amamos. Precisamos estar atentos, conscientes e sinceros em todas as ações da nossa vida e para isso, termos energia para transmitir e modificar positivamente o nosso ambiente. A energia se cria e acumula (como uma bateria) no treinamento do Karatê-Dô e no seu estudo. Extrair pequenas vitórias mesmo na derrota, quando aprendemos uma lição com a queda. Jamais deixar de ser um iniciante e sentir prazer em poder seguir aprendendo até o final da vida. E o equilíbrio virá, naturalmente e mesmo que não venha - ao menos - estaremos bem perto disso. Essa é a nossa missão, essa é a tua jornada.
The lack of a genuine master for both instructors (Daniel and Johnny) induces the trial-error-hit method intuitively, through practical training that the schools offered the two and that by the narrative they start to offer to new students. In the Way of Martial Arts, the lack of a "north" or study with much practice and reflection on what is taught can cause the reverse effect of what is intended, making the life of those who practice and teach a chaos. Therefore, having a master (even if he is a graduate instructor) is fundamental to maintain positive focus, of this power that is being dealt with.
The challenge for both schools in the series is to achieve balance. It's the same challenge that every Karate-Doô practitioner has, along with a quality instructor. And it will depend a lot on who teaches to get to that point, so a true Sensei must practice hard, test and study daily what teaches giving value to it, can not be just a "hobby" or be seen as a "job" but a vocation that generates a legacy.
Wanting to get rid of a problem is what we all want, yet the Path of the Warrior (Budô) shows that we have an "opportunity" to turn a problem into a solution and not destroy it. And so it needs to be in dealing with an opponent.