sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Cobra Kai vs Miyagi Dojo - uma reflexão sobre o Caminho (Dô)



English version below 



  Obras de ficção, em filmes, motivam espectadores ou contam-nos histórias que jamais conheceríamos sem essa maravilha que é o cinema. Muitos inclusive norteiam suas vidas, motivados por personagens tanto do cinema, história ou literatura, sendo exemplos para a nossa breve jornada. 

Temos atração natural por heróis e vilões, e acompanhar o arco de personagens nos dá prazer e entretém, fazendo-nos absorver “o poder do mito” (saiba mais no livro de Joseph Campbell).


Surgiu em 2018 uma série independente chamada “Cobra Kai” baseada na trilogia dos filmes “Karatê Kid” de 1984. Porém a mesma só teve ampla divulgação agora em 2020, graças a entrada no catálogo da plataforma Netflix tornando-se um sucesso de público e causando repercussão aos saudosistas dos filmes originais e grata surpresa a um novo público que desconhecia o Karatê-Dô como Arte Marcial. Novamente, graças ao cinema vira-se o foco para essa atividade que vai muito além da parte física ou de defesa pessoal, tornando-se uma poderosa ferramenta de desenvolvimento pessoal.

Percebemos de imediato na série o desastroso poder do Bullying (é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, que podem causar danos físicos e psicológicos às vítimas) nas vidas de todos os personagens. Na obra de ficção, não existem seres perfeitos ou vidas que possam ser julgadas, tampouco quem não esteja buscando a redenção dos seus erros presentes ou cometidos no passado. 


No caso, o Karatê-Dô apresentado em duas formas diferentes, transforma vidas e eleva a autoestima dos personagens, inclusive dos próprios instrutores. Essas vias e forma de ver o “método” são diferentes trilhas que, em fato, querem levar o praticante ao topo da montanha. Porém como toda a trilha, tem terreno acidentado, pedras, aclives e declives e muitos acidentes de percurso.

A falta de um mestre genuíno para ambos os instrutores (Daniel e Johnny) induz ao método tentativa-erro-acerto de forma intuitiva, através de treinamento prático que as escolas ofereceram aos dois e que, pela narrativa eles passam a oferecer a novos alunos. No Caminho das Artes Marciais, a falta de um “norte” ou estudo com muita prática e reflexão sobre o que se é ensinado pode causar o efeito reverso do que é pretendido, tornando a vida de quem pratica e ensina um caos. Por isso, ter um mestre (ainda que seja um instrutor graduado) é fundamental para manter o foco positivo, desse poder que se está lidando.


O estilo Cobra Kai é mais agressivo, prático e esteticamente forte. O estilo Miyagi Dojo mostra-se forte, filosoficamente correto porém confuso na aplicação diária. Ambos os estilos fazem parte de uma mesma moeda, com duas faces. Na origem do Karatê-Dô não haviam “estilos” diferentes, eram um todo igual, diferenciado apenas pelo método de ensino de cada Sensei. Por motivos mercadológicos, foram nomeados estilos e distanciados os praticantes em grupos distintos, como se fossem outras escolas.

O desafio de ambas escolas da série é atingir o equilíbrio. É o mesmo desafio que todo praticante de Karatê-Dô tem, juntamente com um instrutor de qualidade. E irá depender muito de quem ensina para chegar a esse ponto, por isso, um verdadeiro Sensei deve praticar com afinco, testar e estudar diariamente o que ensina dando valor aquilo, não pode ser apenas um “hobby” ou ser visto como um “trabalho” e sim uma vocação que gera um legado.

A humildade sem submissão, ter respeito ao adversário e misericórdia, sem perder o foco da completa anulação do ímpeto do inimigo. 

A escola Cobra Kai da série precisa aprender com o Miyagi Dojo e vice-versa e criarem algo novo, baseado no antigo.


O Karatê-Dô não se presta a ser algo meramente esportivo ou apenas simbólico, é uma poderosa ferramenta de empoderamento (passar a ter domínio sobre a sua própria vida) e foi criado com técnicas que podem ferir gravemente uma pessoa. Infelizmente, se mal aplicado poderá ferir o próprio praticante e se mal instruído, pode ter consequências desastrosas. O poder envolvido numa Arte Marcial genuína cobra um preço, para o bem ou mal. Isso se aplica também e principalmente a quem ensina, pois esse domínio de técnicas e poder poderá projetar sua vida para coisas positivas ou destruí-lo em rancor e mágoas desnecessárias no processo de amadurecimento da faixa preta.

Querer livrar-se de um problema é o que todos desejamos, 

ainda assim, o Caminho do guerreiro (Budô) mostra que nós temos uma “oportunidade” de transformar um problema em solução e não destruí-lo. E assim precisa ser no trato com um adversário.

Golpear antes, golpear forte e não ter misericórdia, no caso, transforma-se em uma única expressão: estar atento. Consciência do seu estado mental e físico e do adversário, do seu espaço e ações. Buscar a naturalidade nos movimentos propagado pelo Miyagi Dojo, transforma-se em outra única expressão: sinceridade eficaz. O equilíbrio entre escolas tão distintas é algo difícil de alcançar e requer muita disciplina e sacrifício pessoal, sendo uma jornada solitária, ainda que esteja em grupo ou conduzindo por alguém. Nenhuma espada de aço se forja sem passar por várias etapas, por altas temperaturas e muita energia aplicada. Nenhum guerreiro se forja sem encontrar forças, que jamais saberia que tinha, sem o autoconhecimento através do Karatê-Dô.

Seria a diplomacia a solução para tudo?

Nem sempre irá funcionar! Por vezes, teremos que ser duros mesmo com quem amamos. Precisamos estar atentos, conscientes e sinceros em todas as ações da nossa vida e para isso, termos energia para transmitir e modificar positivamente o nosso ambiente. A energia se cria e acumula (como uma bateria) no treinamento do Karatê-Dô e no seu estudo. Extrair pequenas vitórias mesmo na derrota, quando aprendemos uma lição com a queda. Jamais deixar de ser um iniciante e sentir prazer em poder seguir aprendendo até o final da vida. E o equilíbrio virá, naturalmente e mesmo que não venha - ao menos - estaremos bem perto disso. Essa é a nossa missão, essa é a tua jornada.




Works of fiction, in films, have always motivated viewers or tell us stories that we would never know without this wonder that is cinema. Many even guide their lives, motivated by characters from both cinema, history or literature, being examples for our brief journey. We have natural attraction to heroes and villains, and following the arc of characters gives us pleasure and entertains, making us absorb "the power of myth" (learn more in joseph campbell's book).

In 2018, an independent series called "Cobra Kai" was created based on the 1984 "Karate Kid" trilogy. However, it only received wide publicity now in 2020, thanks to the entry in the catalog of the Netflix platform becoming a public success and causing repercussion to the nostalians of the original films and grateful surprise to a new audience that did not know Karate-Dô as Martial Art. Again, thanks to cinema turns the focus to this activity that goes far beyond the physical part or self-defense, becoming a powerful tool of personal development. 

We immediately perceive in the series the disastrous power of Bullying (it is the practice of violent, intentional and repeated acts, against a helpless person, which can cause physical and psychological harm to the victims) in the lives of all characters. In the work of fiction, there are no perfect beings or lives that can be judged, nor those who are not seeking redemption from their mistakes present or committed in the past. In this case, Karate-Doô presented in two different forms, transforms lives and elevates the self-esteem of the characters, including the instructors themselves. These routes and way of seeing the "method" are different trails that, in fact, want to take the practitioner to the top of the mountain. But like the whole trail, it has rough terrain, rocks, slopes and slopes and many road accidents. 


The lack of a genuine master for both instructors (Daniel and Johnny) induces the trial-error-hit method intuitively, through practical training that the schools offered the two and that by the narrative they start to offer to new students. In the Way of Martial Arts, the lack of a "north" or study with much practice and reflection on what is taught can cause the reverse effect of what is intended, making the life of those who practice and teach a chaos. Therefore, having a master (even if he is a graduate instructor) is fundamental to maintain positive focus, of this power that is being dealt with. 

The Cobra Kai style is more aggressive, practical and aesthetically strong. The Miyagi Dojo style is strong, philosophically correct but confused in daily application. Both styles are part of the same coin, with two faces. At the origin of Karate-Doô there were no different "styles", they were an equal whole, differentiated only by the teaching method of each Sensei. For marketing reasons, styles were appointed and the practitioners were distanced in different groups, as if they were other schools. 


The challenge for both schools in the series is to achieve balance. It's the same challenge that every Karate-Doô practitioner has, along with a quality instructor. And it will depend a lot on who teaches to get to that point, so a true Sensei must practice hard, test and study daily what teaches giving value to it, can not be just a "hobby" or be seen as a "job" but a vocation that generates a legacy.

Humility without submission, having respect for the adversary and mercy without losing the focus of the complete nullification of the enemy's momentum. The Cobra Kai school of the series needs to learn from Miyagi Dojo and vice versa and create something new, based on the old one. 

Karate-Do is not used to be something merely sporting or just symbolic, it is a powerful tool of empowerment (to have dominion over your own life) and was created with techniques that can seriously injure a person. Unfortunately, if poorly applied can hurt the practitioner himself and if poorly instructed, it can have disastrous consequences. The power involved in a genuine Martial Art charges a price, for better or forless. This also applies and especially to those who teach, because this mastery of techniques and power can project their life to positive things or destroy it in unnecessary grudges and sorrows in the process of maturing the black belt. 


Wanting to get rid of a problem is what we all want, yet the Path of the Warrior (Budô) shows that we have an "opportunity" to turn a problem into a solution and not destroy it. And so it needs to be in dealing with an opponent. 

Striking before, striking hard and having no mercy, in this case, turns into a single expression: be attentive. Awareness of your mental and physical state and your opponent, your space and actions. Seeking naturalness in the movements propagated by Miyagi Dojo becomes another single expression: effective sincerity. The balance between such different schools is difficult to achieve and requires a lot of discipline and personal sacrifice, being a lonely journey, even if you are in a group or driving for someone. No steel sword is forged without going through several stages, by high temperatures and a lot of applied energy. No warrior is forged without finding strength, who would never know he had, without self-knowledge through Karate-Doô. 

Is diplomacy the solution to everything? 

It won't always work! Sometimes we're going to have to be tough just the people we love. We need to be attentive, aware and sincere in all the actions of our lives and for this, we have the energy to transmit and positively modify our environment. Energy is created and accumulated (like a battery) in karate-doô training and its study. Extract small victories even in defeat, when we learn a lesson from the fall. Never stop being a beginner and feel pleasure in being able to continue learning until the end of life. 

And the balance will come, of course, and even if it doesn't come - at least - we'll be very close to that. That's our mission, that's your journey. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O perigoso mundo da validação do Ego

       Existe um ditado popular que diz: “se conselho fosse bom, seria vendido” então, no caso, existem sim profissionais que são pagos para nos aconselhar, em diversas áreas, não somente no ramo da psicanálise (de valor inestimável) como em tantas outras. Porém o que dizer de pessoas leigas que dão conselhos baseados apenas em “crenças” e não em “fatos” e como lidar com isso?

Primeiramente precisamos compreender que todos temos questionamentos (inseguranças) sobre a nossa própria vida e definição de sucesso. Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que “nem sempre a grama do vizinho é tão verde”. Ainda assim, o conselho que é um primo em segundo grau da fofoca, é apenas uma forma de autoafirmação de alguém que não é totalmente feliz e seguro, e provavelmente não tem a menor ideia do que está falando. E todos escutamos conselhos ao longo da vida, pois faz parte da história da humanidade como ferramenta de preservação e ajuste social. Além disso, temos o atual vício em leituras e frases de "auto ajuda" que são paliativos, para não resolver problemas mais profundos do nosso inconsciente. 

Indo além dos conselhos temos a necessidade, em todas as idades, de sermos agradados. De recebermos elogios, de sermos bajulados, mesmo quando fingimos que não gostamos daquilo, em algum lugar do inconsciente aquilo massageia o ego. Existem inclusive estudos dizendo que mesmo com plantas, se diariamente falarmos palavras positivas para as mesmas (veja bem, são plantas) as mesmas crescem e prosperam. E ao contrário, as mesmas tendem a morrer. Claro, isso tem mais haver com a energia que você emite do que realmente as palavras (assunto para outro texto). Ainda assim, imagine no contexto das interações humanas a importância tanto da energia quanto do que se está sendo falado. Somos humanos e estamos em constante auto avaliação e sendo avaliados, por outros. O problema disso é quando ficamos viciados em termos a “validação” externa, nos trazendo problemas. E isso acontece diariamente através de redes sociais, ambiente de trabalho, relações familiares e afetivas e amizades.


A validação do ego é um veneno diário em relacionamentos em todas as esferas. Quanto maior apego a uma ideia, a um preconceito ou forma de agir maior a chance de estarmos errados a respeito daquilo. Ego é o princípio de realidade, nos faz refletir sobre os custos e benefícios de uma ação, antes de decidir agir sobre desistir ou ceder aos impulsos. De forma equilibrada o ego é positivo e nos faz evitar situações constrangedoras e faz parte da nossa personalidade. Ainda assim existem variações negativas do ego, como o ego inflado de uma pessoa narcisa, egos fragilizados (com baixa autoestima e depressão) entre outros.


Em nossos tempos, o ego está deixando de ser algo de uma personalidade fiel a princípios para se moldar as necessidades imediatas de prazer e básicas de uma pessoa. Prova disso é que ainda nos surpreendemos com atitudes absurdas de pessoas em todos os níveis sociais e culturais da nossa sociedade. Em todas as áreas as quais convivemos temos relatos e experiências de coisas que jamais deveriam ter acontecido se houvesse um “filtro” do ego perante aquilo.

O caminho para um ego limpo talvez seja o desapego, ignorar falsos profetas e políticos, evitar quem se auto proclama mestre e sermos compreensivos com amigos e familiares, que no auge das suas inseguranças (em alguns casos, vidas fúteis e sem cor) tentam nos aconselhar e indicar o caminho para a felicidade. A maturidade nos faz olhar toda essa movimentação com a alma serena, conscientes que o nosso destino é independente do que vem de fora e é construído dia após dia através de ações positivas, para consigo e para com o próximo. Pessoas felizes não precisam de validação, evitam dar conselhos e são ótimo ouvintes pois estão usando o melhor dos seus egos, se auto validando.

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A tolerância humana ao absurdo.

Atavicamente somos preparados para conviver em sociedade e aceitar condutas impróprias dos nossos mais próximos. Não é uma questão de julgar ao outro e sim de entender, se existe bom senso nas ações do outro, e se aquilo serve para a tua vida.


Com a velocidade da informação e tendência a desvalorização do "ser" pelo "ter" acabamos por projetar nossas expectativas e ansiedades em cima de outros, que por vezes, sequer sonham com o roteiro que estão inseridos. 

O que é mais importante para um ser humano? a sua própria vida. E dentro disso, pode desenvolver um "pensamento mágico" que faz pequenos desejos se tornaram grandes objetivos que envolvem outras pessoas sem contar com o respeito pela individualidade do próximo ou os sentimentos de todos os envolvidos nesses planos. Nisso entra a tolerância, muitas vezes por amor, outras tantas por falta de opção e não desejar ser inadequado com as pessoas. Toleramos, o que poderia ser interpretado como insuportável eticamente. 


Então num contexto maior, temos leis absurdas que não ajudam e são quebradas para penalizar o cidadão. Temos relacionamentos pró forma apenas para seguir o roteiro social e pessoas ansiosas em encontrar sua alma gêmea, sem sequer saber dos seus demônios interiores e sem tem alto valor para oferecer a um companheiro(a), doam pouco e querem muito. 

Claro existem muitas pessoas que convivem de forma harmoniosa e com respeito, sendo um "oásis" e sorte de quem pode conviver com pessoas assim. 

Em muitas religiões esse tema é abordado como "perdão". 

Como sendo o ato máximo de amor ao próximo e aos ensinamentos dos profetas. Mas até que ponto somos obrigados a aceitar o absurdo vindo de qualquer parte?

A lógica nos leva a uma resposta simples, sabemos instintivamente questões que são polêmicas e para isso, precisamos nos afastar delas. Pessoas brigam não para resolver algo, e sim para colocar para fora suas mágoas e frustrações e terem seus egos validados. O perdão nesse caso é exigido de fora para dentro, quando sendo Piaget, precisa vir de dentro para fora.

Somos obrigado a engolir sapos todos os dias. 

Como brasileiros estamos cada vez mais treinandos a ter jogo de cintura perante a burocracia, arrogância e impedimentos do Estado para o nosso papel de cidadão. Temos mais deveres que diretos. E isso se estende as relações.  

Não precisamos tolerar tudo que nos é imposto. 

Opiniões e pré-julgamentos, conselhos inúteis baseados em análises superficiais sobre nossas vidas e mudanças. O desafio é sermos diplomáticos, rápidos e assertivos quando as pessoas nos despejam absurdos e tentam nos convencer. Por respeito e amor, podemos evitar pré-julgamentos, falas e atos, muitos desses não fazem sentido ou são absurdos e precisam apenas ser escutados, porém ignorados. 

Pedir desculpas, reconhecer erros e ter um desapego profundo de sentimentos mesquinhos como orgulho, aumenta o nosso grau de tolerância aos absurdos que virão. 


O absurdo é colocado aqui como a falta de bom senso e tendência a obrigar as pessoas a aceitarem a sua verdade, sobre a nossa. Independente dos nossos atos ou credibilidade. Não precisamos responder o que quer que seja na hora, no dia, no mês ou sequer no ano, se suportamos as consequências dessa "não" resposta. Não somos obrigados a conviver com pessoas desagradáveis e que não acrescentam. A prioridade que damos para coisas fúteis e que não refletem em nossa vida daqui a cinco anos, apenas nos gera ansiedade e ilusão de resultados, o tal pensamento mágico, em ação.

E como sabemos, mágica é truque sendo assim, falso. 





domingo, 30 de agosto de 2020

Presa, predadores ou conservadores?


Num universo de milhares de anos de humanidade, tivemos que nos adaptar a situações, ambientes e convivo, que nem sempre foi harmônico (ainda não é) entre natureza e entre nós como sociedade. Dentro desse contexto, costumo dividir os comportamentos como “presa ou predador”, principalmente no contexto dos meus alunos, onde ensino a eles não serem presas.

A palavra “predador” pode parecer pejorativa, e nos contextos que geralmente é utilizada realmente é. Ainda assim, você pode ter a mente de predador como defesa, não como alguém que irá destruir algo ou prejudicar alguém. Ainda assim, temos muitos que agem de forma instintiva e possuem essa conduta de “presa” ou “predador”. São todos os tímidos, as pessoas que não se impõem na vida, que são escravizados ou sentem-se diminuídos pelas opiniões dos outros ou até pela falsidade das vidas alheias nas redes sociais Os predadores são ainda piores, pois estes agem por impulso e prejudicam o próximo sem medir consequências. Estes, tiram proveito da fraqueza alheia, almejam lucro acima de tudo, deixam a ética e o caráter para trás, procuram relacionamentos afetivos onde serão o centro das atenções e monopolizam atenções como se fossem leões caçando numa selva. Quando satisfeitos, descansam e logo que possível passam para outras caças.


Pois que descobri a algum tempo, que pode existir um terceira classe que são os “conservadores”. Estes, tem um amplitude de consciência mais expandida. Preocupam-se com o meio ambiente, separam lixo, evitam o consumo excessivo tanto de produtos como de mídias. Nesse grau de consciência, conseguem diferenciar o que lixo e o que é ouro. Não desvalorizam o lixo, tampouco endeusam o ouro, apenas o diferenciam sem julgar. Evitam o conflito, buscando relações onde aja consenso, harmonia e justiça. Acima de tudo respeito. Não necessariamente são consumidores, compram o mínimo para o seu conforto, ainda que possam algumas vezes deixar de ter algumas coisas para estimular a criatividade na sua vida, com o que tem. 


E assim, valorizam as coisas certas e as pessoas certas. O debate é visto com a razão e não se busca a vitória, tampouco ter razão. Apenas que as partes saiam satisfeitas, em paz. Os conservadores são capazes de pegar algo antigo, consertar e jamais usar, apenas porque detestam desperdício. E o principal desperdício da nossa era é o de potencial humano. Nesse ponto, os conservadores procuram estimular habilidades do próximo, através da sua própria experiência de evolução pessoal. Infelizmente conservadores são apenas serem humanos, por muitas vezes fracassam em extrair o máximo de pessoas que ainda vivem no ciclo “presa-predador”. 


Conservadores são fáceis de encontrar, basta estar consciente ao seu redor, sem pressa, com o celular desligado e convivendo com gente especial. Agora se tiveres interesse, apure pois estão ficando raros e com o tempo tendem a não se revelaram mais as pessoas. Conservadores estão ficando deslocados num mundo sintético de relações superficiais.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Imunidade, metabolismo e energia (Ki)


        Está acontecendo algo inédito para muitos (pandemia) quando temos a oportunidade de refletir e estudar sobre nossos hábitos de saúde. E não se engane: isso já ocorreu muitas vezes na história da humanidade, infelizmente no passado eles não tinha a facilidade de informação que temos hoje em dia. Claro, usando o filtro adequado e bom senso pois muito do que se ouve e lê, pode estar “contaminado” pela falsa verdade (espécie de mentira que de tanto repetirem parece real). E quando falamos de saúde, estamos ligados a infinitos fatores, entre eles e o mais em voga hoje é a “imunidade”.

     Imunidade é o conjunto de células, tecidos, órgãos, caracterizados pelo reconhecimento, e ação defensiva de eliminação contra substâncias ou moléculas infecciosas ou não, e agentes patogênicos capazes de entrarem no organismo através de enxerto, infecção ou reinfecção, e causar enfermidades. 


Simples né? 

    Porém antes de falarmos de como melhorar nossa imunidade, precisamos conversar sobre o “metabolismo” que trata-se do conjunto de todas as reações que ocorrem no organismo. E essas reações geram energia para a nossa vida. Esse metabolismo é complexo sendo um conjunto de reações químicas e hormonais, que acontecem nas nossas células utilizando todo o nosso corpo.

       O que interliga o metabolismo com a imunidade é a capacidade que temos de acelerar de forma benéfica (ou no mínimo equilibrar) esse sistema sofisticado de vida. E para isso vamos utilizar recursos como alimentação, exercícios, sono adequado, gerenciamento de stress e qualidade de vida.

       Acabamos não percebendo que nos alimentamos de substâncias processadas pelas indústria, excesso de açúcar, quantidades absurdas de comida, assim como bebidas que causam uma explosão de insulina e destroem nosso metabolismo pouco a pouco. Não estou pedindo que parem de beber ou virem veganos, até porque também não sou (ainda) e assim como você, bebo socialmente.

      A obesidade é um dos grandes vilões do nosso metabolismo. Então, ser obeso é aquela pessoa bem gorda né? Não. É estar com peso em excesso para sua altura e idade. Já é o suficiente para lhe causar mal. Cigarro, álcool, stress e drogas de farmácia também colaboram para destruir tua imunidade, mesmo que a última dessa lista, por vezes, seja necessária para “recuperar” o que você já perdeu, a sua energia.

Na cultua japonesa, eles chamam “energia” de “ki. Acaba por sendo algo metafísico definido como a força da vida, a energia imaterial onipresente que no seu fluxo, que anima todos os seres vivos e permeia o Universo, ligando todas as coisas como um todo. 


O bom é que podemos aprender a gerenciar nosso “ki”, através de práticas simples e outras avançadas. 

Quem pratica Artes Marciais de forma inconsciente para iniciantes e consciente para graduados, está trabalhando o seu “ki” em todos os treinamentos. Também por isso, a sensação de alívio quando ao final do treino, pois os praticantes estão com o “ki” equilibrado.

Imagine o “ki” como uma água da cor que você preferir, que percorre o seu corpo como uma rio que percorre vales e montanhas. A maneira mais simples de equilibrar o seu “ki” é através da meditação diária, isso pode ser realizado cinco minutos por dia e ir acrescentando o tempo necessário, conforme a sua rotina. Trabalhando a sua energia você estará contribuindo para a melhora da sua imunidade e equilíbrio do metabolismo, além de ser uma forma de limpar os seus pensamentos do excesso de sujeira que nos ronda. Ao final desse texto, colocarei um link para começares a praticar a meditação

A limpeza, dessa vez, é de dentro para fora.

Existem diversas maneiras de acelerar o seu metabolismo e aumentar a tua imunidade, e todas estão ligadas a sair da “zona de conforto”. Infelizmente, a nossa tendência natural é irmos deixando de lado novos hábitos e vendo a vida escorrer pelos nossos dedos, sem qualidade. Muitos morrem, de forma precoce, dado a isso – infelizmente.

Além de evitar alimentos processados, também o glúten, a lactose e gorduras de frituras são um veneno para a tua imunidade.  A falta de higiene é um costume que infelizmente herdamos de nossos ancestrais, e por incrível que pareça, graças a miscigenação com os índios no Brasil, adquirimos melhores hábitos como banhos diários entre outros. Todavia, poderíamos aprender com os japoneses mais itens como: retirar os sapatos antes de entrar nas casas, limpar os locais após eventos públicos, uso de máscaras em caso de gripe (pasme, já fazem a anos) pensando no próximo, limpeza das mãos com toalhas quentes e sabonete líquido entre outros.


Sobre o banho, recomendo tomares de água fria. Calma, não precisa retirar água da geladeira e tomar banho. Ela vem na temperatura ambiente, do seu chuveiro. Claro, em regiões ao sul do país teremos uma água mais fria que o costume, ainda assim, é infinitamente mais saudável para você do que a o banho de água quente. O banho frio principalmente é benéfico para a sua resiliência mental, como superação e alívio da ansiedade, controle sobre suas emoções e superação. Estudos mais específicos dizem que o que é maléfico mesmo é o banho quente, no caso, deveria ser sempre "morno" a ponto de não embaçar o espelho do banheiro. No caso, se o banho frio for impossível para você, quem sabe ir diminuindo a temperatura um pouco por semana? é uma forma de treinamento da sua resistência a dificuldades. 


Na alimentação, muita água (exceto nas refeições), frutas, legumes e PIMENTA! Sim, além de dar um realçar o sabor da comida, esse item simples faz com que seu metabolismo trabalhem melhor. De manhã cedo, logo após acordar, espremer um limão num copo d’água (d’água significa “cheio”) e tomar sem fazer careta.

As opções são muitas, sendo a "cereja do bolo" as atividades físicas. Todos nós teremos que aprender a lidar com essa melhora da imunidade daqui para frente. Será uma questão de vida ou morte, como estamos vendo nesses tempos de “pandemia”. Afinal, se não fizermos isso para nós mesmos e colaboramos para que outros também o façam, do que adianta viver em sociedade? 

Experimente, pesquise a respeito e mãos à obra!


    Meditação


 Banho gelado





quarta-feira, 8 de abril de 2020

A insegurança humana no Universo das comparações.


O ser humano é fantástico nas realizações, na sua fisiologia e a sua própria vida é algo maravilhoso. Dito isso, olhando de forma isenta a “máquina” humana está pronta para ser programada, isso através do cérebro. Então chegamos na questão da psique de cada indivíduo e aí temos defeitos de “programação”.

O cérebro é feito para executar tarefas e feito isso, economiza energia ao máximo. 

A mente que está dentro do cérebro faz executarmos tudo de forma mais consciente e eficaz, porém consome mais energia que o cérebro não quer gastar. Eis que surge a preguiça como fator de antagonista da educação, leitura, exercícios, autoconhecimento e evolução e pensamentos mais elevados. Sendo assim a insegurança humana é algo relacionado ao medo, que por sua vez é um sentimento atávico e instintivo, que está programado no nosso cérebro para nos proteger num período que éramos “caça ou caçadores”. Quem quiser saber mais, recomendo o livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade (Noah Harari)”.

Trazendo para a nossa época, repleta de informações e abundância de oportunidades de evolução, a insegurança tem remédio. O medo é importante para mantermos uma vida equilibrada, mas vivermos em função dele é uma doença e o mesmo serve para te motivar a avaliar os riscos com bom senso. Se vale a pena ou não fazer, investir, se dedicar entre outros. Para isso serve o medo. A preguiça em pensar traz à tona o pré-conceito e o mesmo nos impede de enxergar a verdade sobre as coisas, de forma racional.

E a comparação é um veneno na nossa sociedade. 

Nesse contexto, tudo está relacionado com uma análise superficial da vida e comportamento dos outros, baseado na nossa própria limitação. E do nosso medo.

Imaginamos que os outros trabalham menos que a gente, que vivem melhor baseado naquele ditado popular “a grama dos outros é mais verde” ou que sofrem mais por terem filhos, por não por terem filhos, serem gordos, magros, pobres, ricos, altos, baixos, burros ou mesmo inteligentes demais. Felizes no amor, casados, solteiros, etc.

Tudo baseados em pré-conceitos sem razão.

Cada indivíduo tem as suas questões e dificuldade. Cada indivíduo tem suas vitórias e derrotas, passa por dificuldades e procura se superar dentro do que pode fazer. Outros superam obstáculos gigantes e demostram mais resiliência que outros, entretanto, não são melhores ou piores, apenas são o humanos diferentes, como cada um de nós.

Procure abandonar as comparações, as mesmas são um defeito muito grava de personalidade e não prestam um serviço para tua evolução. Se procures em todas as religiões, dizem conceitos similares. Se fores ateu, podes procurar na filosofia e se queres ser ainda mais radical, use a lógica matemática para formatares teu conceito, evitando o pré-conceito.

Então surge um argumento: “bom, mas as comparações são importante para avaliarmos notícias e investimentos, relacionamentos entre outras”. Claro, a um certo nível podemos usar a comparação de forma saudável, evitando a utilizar as mesmas como ferramentas diárias de raciocínio. Usar as comparações diariamente, irá nos transformar em pessoas amargas e frustradas, pois sempre haverá alguém que vive melhor ou aparenta ter uma vida melhor que a sua. 

E como fazer para evitarmos comparações? A insegurança?

É um trabalho duro! Exigirá que uses a tua “mente” e não somente teu “cérebro”. Falando em primeira pessoa, eu me baseio em cinco alicerces: trabalho, atividade física, terapia, esoterismo e filosofia. Todas falam de evolução, todas trabalham a consciência, o amor, o respeito e repelem o pré-conceito. Todas te fortalecem a alma e a mente. E isso te fará enxergar o mundo e pessoas como eles são e não apenas “ver” o que teu cérebro (preguiçoso) procura induzir.





segunda-feira, 6 de abril de 2020

O quão importante é ser um esportista, para as Artes Marciais.


      Estamos cientes a muitos séculos da importância do movimento físico para a nossa saúde. Desde os primórdios, o ser humano utiliza o corpo como ferramenta para suas atividades, desde a sobrevivência até a imposição dos seus objetivos como indivíduo.  

       Atualmente, o corpo já não é mais tão solicitado pela força e velocidade dos músculos, graças as tecnologias podemos usar, em grande parte do tempo, o cérebro, em desdém a nossa grande capacidade física.


    Dado esse histórico primata da nossa condição, a atividade física tornou-se um investimento de tempo, energia e dinheiro (além de disposição) para a melhora da saúde. Ao contrário, estamos condenados a doenças, inércia, dores e limitações impostas pela idade e pela preguiça. Impondo limites com desculpas para a má gestão do tempo, enquanto o mesmo passa de forma muito rápida.

       Entre as práticas físicas encontramos as Artes Marciais, que promovem uma melhoria em toda condição fisiológica do praticante, além de ser uma forma de terapia, meditação e conhecimento de uma cultura milenar. Um praticante de Artes Marciais, na sua atividade, já encontra ferramentas de desenvolvimento físico e motor excepcionais, a questão é:

Será o suficiente?
         A resposta é simples: entre iniciantes, sim. Para alunos avançados e principalmente faixas pretas (ou graduados na sua arte) não. Por décadas venho treinando e estudando a forma dos japoneses viverem e o que nos ensinaram das Artes Marciais é uma pequena parcela da forma de vida saudável que levam. E isso engloba a prática frequente de atividades físicas, de meditação e controle do peso. 

   Claro, mesmo na cultura deles existem exceções, ainda assim, muito mais raras que no ocidente. Por isso, para haver um completo desenvolvimento na sua Arte Marcial, é importante aliar outras práticas físicas e rever por completo a sua dieta. Evidente, isso se você quiser entrar em outro patamar de sofisticação na sua prática e melhorar, ainda mais, a tua saúde global. Não estou dizendo que pessoas “obesas” ou com “limitações” físicas não possam praticar Artes Marciais, estou afirmando que partimos de um ponto zero e a nossa intenção é evoluir dentro da nossa prática. E para isso ocorrer, precisamos aliar ferramentas como a musculação, corrida, alongamentos e exercícios de mobilidade, meditação, calisetenia entre outros esportes. Todo e qualquer exercício que promova a saúde global, além de ser desafiador irá fazer com que a sua prática Marcial seja melhorada.

      A cada ano de prática de Arte Marcial você precisa acrescentar exercícios a sua rotina. Torna-los parte de você, da sua vida. Aliado a isso, evidente um estudo teórico do que está realizando, tanto no ambiente de lutas como nos exercícios que você se propuser a executar. É fato que com a idade, as limitações aumentam e por vezes, vejo professores de Artes Marciais com muitas limitações e excesso de peso, provenientes de uma época onde não se investia em atividades paralelas ou dietas corretas, tornando lesões temporárias em permanentes, massa muscular em excesso de gordura e convertendo o instrutor em um palestrante de Arte Marcial. Nada contra, pois a qualidade do mesmo, irá equilibrar o que lhe falta em habilidade física, ainda assim, defendo que principalmente instrutores não se deixem levar pela “zona de conforto” nesses aspectos. O exemplo virá dos mais graduados e isso é fundamental para inspirar alunos a melhorarem suas condições físicas e mentais.

     O guerreiro moderno, raramente irá precisar de defender na rua de uma investida. A grande ação é forjar sua psique para ser mais forte e ágil, e isso engloba também um equilíbrio de saúde, com tônus muscular e agilidade em qualquer idade. 

Nisso os orientais demonstrar uma longevidade superior a nós, pois investem na leveza e equilíbrio de vários aspectos nas suas vidas. 

         A técnica é superior a força, e o espírito superior a técnica, entretanto não adianta ter técnica e não conseguir executa-la e a melhor forma de engrandecer o seu espírito é praticando sua Arte Marcial na plenitude da mesma, com todas as ferramentas possíveis que tiveres para faze-la a cada treino, melhor. Portanto, acredite que você pode mais e torne-se a sua melhor versão, ano após ano impondo-se você mesmo seus limites e não deixando-se levar por limites externos. Bons treinos!

domingo, 29 de março de 2020

O perigoso distanciamento do aluno de Karatê-Dô


Em tempos remotos, quando não existiam recursos e a informação era escassa, um professor era visto como fonte de conhecimento, transmitindo as informações do mundo. Este, por sua vez, trabalhava arduamente para se manter atualizado e passar o melhor para os tutelados. Era reconhecido por isso e em muitos lugares, tratado com respeito e admiração.


 As relações professor-aluno, por vezes, transcendiam a sala de aula e causavam mudanças que até hoje muitos educadores desconhecem. A mudança de qualidade de vida de quem está disposto a aprender, significa muito e abre portas para um novo mundo. O universo do desconhecido causa a sensação de seremos aventureiros desbravando um território, como a séculos nossos antepassados faziam literalmente.

Infelizmente, em novos tempos essa relação ficou diminuída. A forma de informações que a internet provém, transforma dia-após-dia o vocacionado professor, em algo obsoleto - para alguns. E isso é uma tendência, não uma reclamação. O perigo desse fato se encontra quando observamos uma atividade como o Karatê-Dô, considerado uma Arte Marcial. Hoje, apesar da urgência de haverem ferramentas de desenvolvimento psicológico e físico aliadas na mesma atividade, muitos menosprezam o instrutor (sensei) e suas iniciativas. Está se perdendo, de tempos em tempos, a “marcialidade” da “arte”. 

Alunos chegam todos os meses no dojo, procurando respostas para perguntas que ainda não sabem. Descobrem que a cada aula ficam mais satisfeitos e com menos dúvidas, apenas com a vontade de aprender mais. Alguns se vão, quando seus copos estão “cheios” e aquilo basta para modificarem suas vidas. Outros tantos persistem e acreditam que podem ir além, com razão. Nesse meio tempo o instrutor está lá, vendo passar centenas de alunos por anos, lidando com questões físicas e psicológicas de cada um, absorvendo e seguindo a fórmula dos mestres anteriores, de educar. Nosso sistema foi chamado de Shotokan, pois foi fundado por um mestre diferenciado, que já era professor, enquanto outros mestres eram agricultores, pescadores, políticos ou guerreiros.

Muito alunos atualmente praticam a técnica porém não estudam a filosofia Marcial. E pior: não a praticam na sua vida diária! Estamos formando um exército sem consciência de lealdade, dedicação e respeito pela hierarquia. Em um passado, não muito remoto, um instrutor de Karatê-Dô era visto como referência, alunos atendiam a chamados de treinos e eram pró-ativos e leais aos seus dojos. Posso citar que isso está na raiz do nosso sistema Shotokan. Após a II guerra mundial, o Japão estava devastado, sem condições sanitárias, com doenças de todos os tipos, sem comida tampouco água. Mestre Funakoshi (fundador do Karatê-Dô) havia desistido de ensinar. Seus poucos alunos sobreviventes a guerra e doenças, arriscaram suas vidas e economias para juntos, construírem um novo dojo e presentear o mestre. Colocaram na fachada uma placa “Shotokan”.


Com o advento da tecnologia, a velocidade tomou conta das relações. Todo o tipo de comunicação que não for rápida, estará obsoleta para muitos. Os alunos recebem informativos e não respondem, mesmo visualizado-os. Recebem vídeos e não os assistem, tampouco se dão o trabalho de curtir ou estimular o trabalho do instrutor. Estaremos nós, criando uma geração de pessoas que não elogiam ou tampouco são pró ativos? ou tudo isso não passa de uma nova ordem global? Onde interagir e estimular o próximo (instrutor ou não) é expor-se demais.

Interessante a anos tenho conversando com instrutores mais antigos e os mesmos me dizem para esquecer e não esperar nada de alunos, pois os mesmos são ingratos e possuem memória curta. Nunca quis acreditar nisso. Outros tantos mestres me disseram que não posso cobrar além dos que eles podem entregar. Graças ao meu mestre aprendi a desapegar de datas comemorativas ou expectativas, ainda assim, achei curioso que no meu aniversário, ano-após-ano, recebo menos parabéns dos meus alunos que de desconhecidos. E sim, temos meios fáceis de nos comunicar via internet, redes sociais e whatsapp, então esses recursos vieram para nos afastar? 


Ninguém gosta de perdedores, só os vencedores são aplaudidos. Por vezes, vencem sozinhos e recebem os aplausos no momento.

Numa guerra, situação de crise extrema, precisamos contar com o soldado ao nosso lado, na trincheira. É fundamental a hierarquia e isso nos torna quase uma família, só que com regras explícitas e espírito de combate. No campo de batalha, isso fará a diferença entre a vida e a morte. Um soldado jamais abandona sua guarnição, ou deixa um companheiro para trás tampouco abandona o navio que o acolheu. Procura de todas as maneiras ser útil mesmo que seja tapando um furo com o dedo.

Infelizmente, um instrutor de Karatê-Dô - atualmente - pode contar com poucos alunos. Numa situação de crise, mesmo gente treinada abandona a “marcialidade” e enxerga a relação com o dojo como se fosse uma loja, um comércio. No caso, são clientes e devem ser atendidos ao seu bel prazer e o instrutor é um vendedor, que recebe dinheiro para atender desejos.

Existem exceções, é claro. 

Poucas vezes, posso contar nos dedos de uma mãos quando um aluno me mandou uma mensagem perguntando se eu estava bem. Posso lembrar rapidamente, da vez que vi um aluno pegar uma vassoura para limpar o dojo, mesmo quando via que eu estava limpando. Ainda, posso ver estatisticamente uma quantidade enorme de acessos e visualizações de vídeos no nosso canal, contraponto da quantidade de “curtidas” que são escassas. O simples movimento de mexer o dedo e curtir algo do seu Sensei – quiça – responder nos grupos comunicados com “sim”, “ótimo”, “entendido”, e que seja a palavra mais simples “Oss” parecem abolidos.

Erro no ensino, desde a faixa branca? 

Falta de ensinar empatia além de técnicas de Karatê-Dô? 


Tenho a felicidade de ter alguns alunos que me seguem e auxiliam. Esses tempos tive que fazer uma mudança rápida de sala e dois alunos, de cinquenta, me ajudaram. Foram ótimos e prestativos. Ou quando adoeci, contei com três alunos para me substituir. Casos raros, momentos raros. 

Não espero muito de alunos antigos ou novos, continuo me dedicando ao máximo para entregar o melhor conteúdo que posso, ciente que é uma missão de vida independente de reconhecimento, ajuda ou de as vezes olhar para os lados, e me ver solitário. Quem sabe o legado seja vê-los levar um pouco de mim adiante, manterem a tradição, independentemente de serem empáticos ou não. 

Talvez esse seja o Caminho do verdadeiro guerreiro, contar somente com a sua espada. Quando seu coração (kokoro) está satisfeito, pode ser o suficiente.