sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O labrador e eu

Época de virada de ano, pausas para reflexões, tempo para relaxar por alguns dias. Algumas pessoas na cidade e outras na praia – o meu caso. Sigo uma rotina na praia, intercalada de treinos e pausas para não fazer nada. Outros momentos para conviver mais com as pessoas que amo, minha família. Também aproveito para refletir e planejar o que posso melhorar no meu Caminho. 

Então, num dia desses, estava cedo na praia para aproveitar o mar e o sol. Eis que me bate uma rara melancolia, um pensamento estranho, me fazendo perceber que eu estava sozinho e que isso não era bom. Eu gostaria de ter uma companhia, naquele momento, alguém para trocar uma ideia ou apenas estar perto. Não tinha - não era o caso naquele dia.

Eis que, do nada, surge um labrador. Um tanto estranho aquele elemento na nossa praia, pois é proibido cachorros na areia e existe certa patrulha privada a respeito. Aliás, em 15 anos de praia, no mesmo local, jamais havia visto um cachorro ali.
Então, o cachorro olha para mim e, como se percebesse meu pensamento, se aproxima. Baixa a cabeça, enquanto eu, automaticamente, estendo a mão e faço carinho nele. Converso com o bichinho e pergunto onde está seu dono, ou o que ele faz ali na praia. Ele parece me entender e fazer um olhar triste. Percebo alguns machucados na cabeça dele, já secos e velhos, sinais de alguma briga com outros cachorros ou coisas do gênero. Ele senta ao meu lado e logo deita, com a cabeça entre as patas.

Imagino que ele deve ter se perdido de alguma família rica; que, por não saber se virar na rua, deve ter apanhado de outros cachorros, enquanto procurava por comida; que estava abandonado na praia. Sozinho.

Apesar de muitas pessoas ao redor, ambos nos sentíamos sozinhos e, naquele momento (juntos), tínhamos alguém. Não estávamos mais sozinhos. Outras pessoas pareciam não enxergar o cachorro comigo, deitado ali. Então, fiquei passando a mão na cabeça dele, me deitei e dormi. Quando acordei, ele havia ido embora, meu companheiro de praia já não estava mais por perto. Fiquei pensando se eu havia sonhado. Olhei ao longe, na costa da praia, e enxerguei um rabo abanando ao longe. Era ele: o labrador.


Algumas pessoas têm uma relação (mais que) afetiva com animais. Outras acreditam que eles possam ser anjos que nos fazem companhia, em momentos que precisamos, na nossa curta jornada aqui na Terra. É verdade, animais são criaturas especiais, embora muitos não percebam isso.

Por um breve espaço de tempo, aquele labrador levou minha tristeza embora. E creio que eu passei um pouco de conforto para ele. O que podemos esperar mais numa relação? Nunca mais encontrei aquele cachorro. Talvez fosse um anjo. Talvez somente eu o tenha visto. Ficou um pouco dele e levou um pouco de mim.

Fique com Deus, meu amigo e obrigado.



.

domingo, 6 de novembro de 2011

A mágica de ser um bom Sparring, nas lutas e na vida.


Volto a escrever, após um tempo de ausência do blog e com alguns novos temas definidos. Muitos deles, como este que apresento, estavam “na gaveta”. Felizmente organizei meu tempo e as ideias, para voltar a escrever. Sparring é uma palavra inglesa, muito utilizada nas Artes Marciais; entretanto, sua origem é do Boxe. Trata-se de uma pequena e estranha palavra, que diz muito sobre um comportamento:

“Verbo “spar” ou seu gerúndio “sparring” são termos usados quando lutamos mais com sentido de treino, exibição ou, mesmo, puro divertimento. Usamos o verbo “boxear”, quando lutamos pra valer.”
“Substantivo sparring, para denominar um colega que tenha estilo semelhante ao do nosso próximo adversário e que se dispõe a ajudar nosso preparo, fazendo lutas de treinamento conosco.”


Parece simples o conceito de sparring; porém, após alguma reflexão e muitos anos de treinamento, deparei-me com o múltiplo sentido dessa palavra. Isso foi possível, em decorrência do aprendizado intuitivo, produzido ao mesmo tempo em que  dou aulas de karatê-dô. Nesse sentido, fico grato aos meus alunos, por proporem esses desafios no nosso Caminho (Budô).

Esse insight surgiu durante algumas aulas, em que praticávamos técnicas de luta e, posteriormente, fazíamos a luta em si, e eu não conseguia fazê-los aliviar a força e a excitação, pelo combate. Pedia que começassem com menos intensidade e procurassem colaborar com o colega, o que não acontecia. Após alguns machucados e contratempos, tivemos uma conversa. Procurei explicar a intenção do treinamento e a necessidade de oferecer o auxílio ao colega, no treinamento. Ou seja: ser um bom sparring.


Um das dificuldades em ser um bom sparring é a insegurança. Óbvio que ninguém gosta de perder ou se sujeitar à derrota (ainda que de forma ficcional); entretanto, o praticante que está sendo sparring está simulando essa situação. E para qual finalidade? Para proporcionar o desenvolvimento do colega, nas suas técnicas. A questão, porém, é que o sparring também se desenvolve enquanto é o “alvo” do colega. Ele também aprende a noção de distância (maai), de tempo certo (deai) e de vários itens técnicos envolvidos no combate. A posição do olhar, a movimentação do corpo, a postura, a concentração e o espírito (zanchin) estão sendo trabalhados pelo sparring, e isso é um treinamento intenso.

Então, por que o sparring (ou o outro) tenta resistir à aplicação de uma técnica ou cria dificuldade, em excesso, para o colega? Por que não ceder e colaborar com a evolução de ambos?


Podemos transferir essa questão para a nossa vida, porque as pessoas também resistem às ideias, às mudanças e, mesmo, ao afeto. Quantos relacionamentos são destruídos, onde o casal tem coisas em comum (e até amor), porém ambos jogam um “antijogo”, não sendo bons “sparrings”, um para o outro? Não cedem em suas vontades, em suas idiossincrasias, em suas opiniões, causando um mal-estar ou, pior, magoando o parceiro. 
Esse simples conceito do universo das lutas se aplica diretamente na nossa vida. Ser um bom sparring cria uma mágica para o próximo. Abre caminhos, gera cortesia, trabalha no auxílio de possibilidade em fazer algo e “poder” fazê-lo melhor. Cria confiança no próximo, rompe as barreiras e promove o crescimento pessoal.
Ser um bom sparring é ótimo!



E por que temos dificuldades em agir assim? Pela falsa noção de controle que queremos ter. Quando criamos dificuldades para o próximo, estamos tentando controlar o que deveria fluir naturalmente. Nem tudo ao nosso redor deve ser manipulado ou, necessariamente, é nossa responsabilidade. As ações e reações das pessoas que amamos, por vezes, não têm lógica alguma! São frutos de coisas que sequer imaginamos, de vivências e má interpretação de um passado que não pode ser mais modificado.

Nas Artes Marciais, ceder o controle não significa perder o controle. Significa interagir, de forma dinâmica, com o ambiente e extrair a maior energia, com o mínimo de esforço, contração muscular (e espiritual) possível. Significa esvaziar a mente de medo, orgulho ou de angústias. Isso também pode ser chamado de “Mushin” (fig. ao lado - mente vazia, mente livre), um estado mental que possibilita agir sem hesitar, quando necessário. Esse jogo de controle e não-controle faz parte da formação de um lutador. Para chegar ao ponto de deixar fluir as ações, o praticante deve estar seguro da sua técnica e almejar um bom resultado.

Por fim, ser um bom sparring é um ato de caridade. Muitos podem confundir caridade com dar algo a alguém que é mais pobre; todavia, o significado dessa palavra vai além. Ser caridoso também significa benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias. E, com isso, trabalhamos o ego.


Livrando-nos do ego, recorremos à humildade e as coisas fluem melhor. Em japonês, isso pode se manifestar como Nyuanshin (coração dócil, mente receptiva), que também significa certa flexibilidade de espírito, que ateste sua disposição em aceitar as coisas tais como são apresentadas. Se você adotar esse tipo de conduta, na prática, adquirirá a característica da humildade e beneficiará as pessoas e a sociedade da qual você faz parte.  A ausência dessa característica denota orgulho e ego, os elementos que conduzem à fricção mental e que constituem um obstáculo ao desenvolvimento espiritual. 

Ser um bom sparring é ser flexível com o próximo e consigo, é adaptar-se e desafiar-se,  buscando o desenvolvimento. Isso, nas Artes Marciais ou na vida. Oss

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Arte Marcial e a Educação


É necessário conhecer intelectualmente o que é bom e o que é ruim. Também é necessário desenvolver a inteligência para distinguir o certo do errado em várias situações complexas.

Assim, é necessário ensinar a pessoa a distinguir o bom do ruim, diferenciar o que é certo e o que é errado.

A educação moral deve ser trabalhada no aspecto das emoções. Mesmo que, intelectualmente, você saiba distinguir o certo do errado, se não for treinado emocionalmente para gostar do que é bom e evitar o que é ruim, sua capacidade de fazer o bem e de rejeitar o ruim será deficiente.

Se a moral não for cultivada intelectual e emocionalmente, não se chegará a bons resultados.

Além disso, mesmo que você tente fazer o bem e rejeitar o mal, se a sua força de vontade for fraca, ocorrerá muitas vezes o oposto. Assim, o treinamento da força de vontade deve fazer parte da educação moral – uma força de vontade fraca pode resultar na incapacidade de fazer o que você considera correto ou de evitar algo que você sabe que é errado.

Também é importante lembrar-se do hábito.

Mesmo que você tenha intenção de fazer o bem, se não desenvolveu esse hábito, suas melhores intenções podem facilmente se desvirtuar. E mesmo as melhores intenções de rejeitar o mal podem falhar se você não desenvolveu o hábito de fazer isso. Por essa razão, você deve procurar cultivar bons hábitos, amar o que é bom e rejeitar o mal diariamente.

Extraído do livro "Energia Mental e Física" de Jigoro Kano (fundador do Judô).

domingo, 14 de agosto de 2011

EnTrE ALToS e BaiXoS


Se existe algo que não é monótono, é a vida. Sim, essa mesmo que você está vivendo agora. A sua vida. Impressionante a quantidade de opções e desafios que a vida nos apresenta, ao longo dos anos que se passam sem que a gente perceba. Viver significa buscar a compreensão do que somos e para que vivemos, sendo que a trajetória (caminho) é mais interessante que os pontos de chegada, que chamados “objetivos”.

" Viver é a coisa mais rara do mundo - a maioria das pessoas apenas existe." (Oscar Wilde)

Tenho refletido sobre as vitórias e derrotas. Sobre os bons e maus momentos. Sobre as conquistas e as inúmeras derrotas. Sobre as pessoas que passam pelas nossas vidas, que estão conosco e também sobre as que já se foram.

Por alguma razão esses pensamentos povoam a minha mente: seja numa festa ou num simples bate-papo com amigos. Dizem que os melhores momentos das nossas vidas não são materiais e (sim) estão relacionados com a convivência com pessoas que amamos. Isso é uma visão otimista.

E os momentos ruins? Onde ficam nessa história? Eles existem e superá-los nos torna mais seguros e maduros. Momentos ruins são uma espécie de treinamento para a vitória. O que quer que a vitória signifique para você.


Essa felicidade que muitos falam aos quatro ventos e almejam não passam de poucos momentos da nossa existência. A vida é recheada de problemas e solucioná-los faz parte da nossa condição de seres humanos. Fácil falar (ou escrever), porém quando nos deparamos com os mais diversos problemas, levamos sustos e a tendência é pensar negativamente sobre os mesmos ou a nossa capacidade de supera-los. 


Pegamos o limão e jogamos fora - ao invés de transformar o tal limão numa limonada. Essa é a nossa tendência, graças à ansiedade que se plantou nesse novo século de soluções instantâneas.


Mas ainda existem momentos que parecem sonhos, quando o estamos vivendo.

Podem ser viagens a lugares que só víamos em filmes, conquistas que pensávamos ser impossíveis para nós, celebração de vitórias ou um simples ato de colocar uma roupa bonita e nos sentirmos bem. Por vezes, esses momentos podem ser ainda mais simples, como caminhar num parque num belo dia de sol. Sentar e escutar os pássaros e absorver o que a natureza nos oferece (de graça) todos os dias.

Já tive situações onde num turno estava sujo da cabeça aos pés de poeira. A tarde estava atlético, comandando um evento importante e a noite estava em outra cidade, de terno e gravata, em um sofisticado local. Já tive situações onde dormi num banco em uma estação de trem sozinho e com frio ou passei horas em um aeroporto - e na noite seguinte - estava num confortável hotel, numa cidade maravilhosa e falando outro idioma. Ou em situações onde estava sem nenhum dinheiro, e no dia seguinte, estava mais próspero. 


Afinal quantas vidas somos capazes de viver numa só existência? Quantas experiências absorvemos em cada situação? Dezenas, centenas, milhares, impossível mensurar a vida! E isso que gera uma massa crítica para formar o caráter e uma inteligência diferenciada. A variedade de situações vividas. Claro, para a formação do caráter vamos precisar ainda mais alguns detalhes, que não vem ao caso. Algumas pessoas não aprendem nunca, mesmo com diversas experiências – não é da natureza delas evoluir.

" Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez." (Dalai Lama)


Entretanto é simples passar por uma vida, despercebido. Não fazer a diferença. Não amar ou tampouco se permitir sentir emoções . Basta seguir um roteiro pré-determinado de ações que a sociedade prescreve para você. Nada contra, vejam bem.

Muitas pessoas são extremamente felizes na sua rotina e vivendo de forma simples e limitada. Amando os bichinhos, porém amando pouco o próximo (e a si). E a simplicidade não tem nada a ver com o luxo, porém com a forma de você ver o mundo e as pessoas que te cercam.


Ainda assim questiono-me sobre o valor de algumas experiências. Penso o quão inútil é ter uma opinião sobre a vida dos outros, como se a nossa vida fosse perfeita. Acredito que o diálogo leva a soluções de questões entre pessoas e percebo que fora disso, estamos apenas criando situações desconfortáveis por causa da maldita “opinião” que achamos que temos.


Quando debatemos sobre “fatos” fica mais simples entrarmos num consenso, todavia quando a conversa é sobre “opiniões” (principalmente sobre um problema) a solução fica mais distante. Essa estranha mania do ser humano de ter opinião sobre tudo e querer ter a razão. Quem tem a razão tem a responsabilidade sobre aquilo. É quase como se assinasse um contrato dizendo que aquilo é uma “verdade suprema” e não existem outras possibilidades. Pasme, a vida nos apresenta (diariamente) alternativas, para tudo.


E as vezes que achamos que os nossos problemas são os maiores do mundo? Que a nossa vida está toda bagunçada e que não somos tão “perfeitos” como gostaríamos pensando e se comparando (injustamente) com o próximo? Terrível! Quando queremos o “colo” de alguém, porém sem perceber que nunca estamos dispostos a dar colo ou saber do problema do próximo (tem gente que nem sequer nota o próximo ao seu lado). Nessas horas a vida pode nos apresentar questões como a doença de um familiar, ou ainda, nos propõem desafios pessoais que nos provam que deveríamos ter agido (e pensado) melhor. Que fomos injustos com o Universo e, talvez, não fossemos merecedores de todas as graças.

Os altos e baixos em uma vida são inevitáveis. O que nos resta a fazer e se preparar para o amanhã. Fazendo o melhor e a diferença hoje, para nós e para as pessoas que amamos. Não é uma tarefa fácil, óbvio. Nem sempre queremos sorrir, nem sempre queremos sair de casa ou ainda superar obstáculos. Algumas vezes não moramos num lugar que gostamos (casa, bairro ou cidade) e parece que as vidas que estamos vivendo não é a nossa. Muitos se sentem deslocados, mesmo tendo passado uma vida inteira num local ou com um grupo. Porém o que nos resta fazer senão continuar a viver? O que nos resta a fazer senão interagir e buscar o amor (dar e receber)? Em determinados momentos podemos mudar tudo, em outros temos, que nos resignar. Reclamar definitivamente não é a saída. Agir, sim. 

Nossa vida é um livro com milhares de páginas e cada um está escrevendo a sua edição única e original. Nas entrelinhas estão nossos pensamentos, nossas angústias e alegrias, nossa dor e nossas lágrimas. E mais: muitas dessas páginas ninguém vai ler ou saber! Somente você! O que não impede dessas histórias se tornarem parte do ser humano que você é. Ou na simples felicidade de ter escrito a sua própria história de uma forma justa e a garantia de um sono tranqüilo.

Quando chegarmos ao final da nossa vida, que possamos fechar os olhos com a certeza de termos feito a diferença e o melhor que pudemos. Talvez, a única palavra sensata a se dizer (ou pensar) no leito de morte seria “obrigado”.



Claro, isso é apenas uma opinião. Mesmo assim, obrigado.

domingo, 12 de junho de 2011

A Degradação do ser feminino.

Quero escrever sobre o universo das mulheres e sobre as grandes transformações que estão ocorrendo nos últimos anos. Difícil para um homem escrever sobre isso, sem parecer machista ou piegas. Escolhi o dia dos namorados, para escrever, pois me parece conveniente. Não que o dia influencie nas minhas ideias, por qualquer razão, visto que sempre tive experiências positivas nesses dias. Até os dias de hoje, tive os amores que mereci, cada uma com o seu devido valor e personalidades únicas.


Ocorre que tenho observado um aumento significativo do número de solteiros e de solteiras, atualmente. Ainda que em diferentes proporções, há também pessoas que optam, inclusive, por uma mudança de opção sexual. Sobre esse último aspecto, posso escrever outro dia; porém, acredito que isso sempre existiu, na história do mundo, e é mais natural que parece. Respeito quem opta por outro caminho, ainda que me mantenha heterossexual e ogro. A grande mudança, no entanto, nos nossos tempos, está no aumento de solteiros, em ambos os sexos.


E por que isso?


Acredito que a feminilidade está em extinção. A parcela mais adorável da personalidade feminina está sumindo. E o que isso significa? Que as mulheres estão se tornando mais masculinas, nas atitudes e hábitos. Infelizmente. As mulheres sempre mantiveram suas qualidades de agregar valores e condutas, de tranquilizar os embates, de amenizar os problemas. Agora estão mudando. Estão cada vez mais parecidas e neuróticas com (e como) os homens.


E isso está ocorrendo, graças a nós, homens. Sim, nós, por milhares de anos, procuramos dominar, subjugar e menosprezar as mulheres, como dóceis seres humanos. Por séculos, obrigamos as mesmas a nos servirem e a aceitarem os nossos desejos e hipocrisias, sem chance de as mesmas poderem optar por um caminho diferente. Há poucas décadas, as mulheres ainda eram obrigadas a ficar casadas com um marido que passava a noite na farra e voltava para casa com cheiro de bebida e cigarro, indo dormir da maneira que chegava da rua, ao lado da sua “esposa”. Que papel ridículo esse a que o homem se propôs - e que obrigou as mulheres a aceitarem. Talvez isso seja da natureza do homem ou talvez seja uma perversão do processo civilizatório, não sei.


Graças a esse quadro de dominação masculina, a mulher chegou num ponto onde queria ter tudo que havia deixado para trás. Queria toda a liberdade e experimentar todas as nuanças do universo masculino - das mais suaves atitudes às mais pesadas patologias. Não estou falando apenas da liberdade sexual, mas também da civil e profissional. A mulher passou a trabalhar fora, vencer como profissional e conquistou a suposta liberdade, assim como perdeu a saúde. Nesse cenário, mulheres estão fumando mais, estão tendo mais problemas cardíacos, estão mais estressadas e a carga de trabalho ficou quatro vezes maior que no passado. Muitas estão bebendo mais e cada vez mais cedo, por diversão, sem considerar as diferenças fisiológicas entre o fígado de uma mulher e o de um homem. Já presenciei, diversas vezes, mulheres competindo com homens, copo após copo de tequila, e com qual finalidade? Afirmação.


Enquanto o homem observa tudo com um ar de desdém e admiração, no fundo, de forma coletiva, percebe que ainda segue usando a mulher.


E onde ficou perdida a feminilidade? A feminilidade de que falo consistia naquela parcela da mulher que a fazia leal, cuidadosa, uma pessoa que se preservava e que era cuidadosa com a família. Por vezes, a mulher abnegava-se de coisas em prol da família e a favor do companheiro. Era uma defensora do mesmo, da privacidade do casal, valorizando as qualidades da parceria e tendo paciência com os defeitos. Hoje em dia, para que ter paciência, se estamos numa sociedade do descartável? Uma sociedade, onde tudo é rápido e pode ser dispensado, sem maiores custos. Mesmo relações não precisam durar, afinal a vida é curta! (estou sendo irônico!)


Algumas mulheres, ao perderem a feminilidade, estão transando mais com mais parceiros, estão bebendo mais, dormindo menos e esquecendo suas famílias. Justificam tudo como uma “busca” pela felicidade e pela liberdade, quando, de fato, estão se prejudicando e corrompendo. Com o tempo, acabam se drogando, entrando em depressões ou se internando em clínicas, para solucionar problemas de temperamento, e não exatamente problemas psicológicos. Pura falta de caráter e de feminilidade.


A perda da feminilidade também está explícita na moda, em desfiles onde as modelos parecem ser “andrógenos”, metade mulher, metade robô, uma boa parcela, homem. O cinema retrata bem esse quadro, em filmes onde aparecem mulheres que espancam vilões e matam sem piedade e disfarçam-se de mulheres sem sentimentos e que usam o sexo para conquistar e conseguir o que querem.


Novelas mostram, para as crianças, que mulheres que usam de todos os artifícios para subir na vida são vitoriosas e ricas. Nas mesmas edições de seriados de TV, casais trocam de parceria como quem troca de roupa, inclusive promovendo relacionamentos dentro das próprias famílias, sem nenhum charme de trama grega.


Mulheres no trânsito também perdem a feminilidade e não agem mais com tanta cautela. Podemos observá-las cortando a frente de outros carros, invadindo o corredor de ônibus, ameaçando e xingando pedestres, andando de motos de forma violenta, entre outras façanhas. Além disso, algumas parceiras estão discutindo com os companheiros, pelo simples hábito de quererem provar um ponto de vista e vencer. Outras estão brigando com os parceiros, por dinheiro, não considerando um projeto maior de casal e futuro. Apenas visualizam o tempo presente e as aparências.


A internet está colaborando com essa perda da feminilidade. Muitas mulheres estão abreviando o caminho da conquista, através de sites de relacionamentos, onde podem analisar currículos e determinar exatamente um perfil de homem que necessitam. Nada contra isso; porém, onde fica a saudável contradição dos opostos? Algumas não percebem que estão oferecendo a sua companhia para completos desconhecidos e abrindo suas vidas e correndo risco de saúde (e dignidade), convivendo com um número maior de parceiros e se expondo, como se fossem produtos. Inclusive, alguns perfis em sites de relacionamentos são muito parecidos com perfis de sites de prostituição, com mulheres de biquíni ou seminuas e em posições reveladoras. Sob um certo aspecto, não sou contra, óbvio, porque sou um homem e gosto de vê-las. Porém, a que ponto chegam algumas pessoas? Esses dias, acessei um perfil desses e encontrei uma renomada advogada e professora se expondo como se fosse uma meretriz. Sem ofender as meretrizes. Essas últimas, profissionais, que estão perdendo mercado, a cada dia, graças à grande oferta de sexo fácil.


Sim, chegou a vez de as mulheres nos usarem!


E o que fazer quando, em um belo dia, um amigo te apresenta a namorada e você dá de cara com aquela pessoa que viu num perfil de site de relacionamento ou que sabe que é uma consumidora voraz de sexo fácil. Você estende a mão e deseja felicidades. Coitado do amigo!


Mulheres que perderam a feminilidade são falsas. Querem chamar a atenção a todo o custo e buscam, de forma mercenária, a felicidade. Pensam somente no seu bem-estar momentâneo e no quanto de valor financeiro e de status podem alcançar. Não usam os atributos femininos e, sim, agem como homens, visando o jogo da conquista. São materialistas e justificam seus fracassos amorosos como culpa de homens sem caráter, quando, de fato, estavam usando as ferramentas erradas de sedução.


Óbvio que não são todas as mulheres que perderam a feminilidade. Certamente existem muitas mulheres que convivem com toda a liberdade e recursos; porém, não perderam a principal diferença de uma mulher para um homem. Existem muitas mulheres de fibra, que persistem, que são leais aos seus parceiros, que buscam a felicidade, trabalham, se esforçam, são boas mães e boas esposas. Participam da sociedade e contribuem para algo melhor. Mulheres que mantêm sua feminilidade, sua parcela meiga e suave. São humildes, sem serem submissas (como diria a filósofa, minha mãe).


Essas verdadeiras mulheres ainda estão salvando as relações. Essas verdadeiras mulheres ainda preservam suas identidades e características, aliando tudo que a liberdade pode dar aos valores que valem a pena serem preservados. Não são descartáveis e não consideram homens como objetos ou inimigos. São aliadas dos homens e buscam evoluir. Construir algo maior. São mulheres femininas, que sabem valorizar e elogiar um homem, que sabem como satisfazer e dar mais segurança ao parceiro.


Para finalizar, quero colocar um trecho de uma psicanalista, que cita o seguinte:

“A nova mulher do milênio pode ser sensual e sedutora, com erotismo à flor da pele, sem que seja a prostituta, com uma performance apenas mecânica, ou a mulher-objeto, que é embalada com papel celofane e oferecida como mercadoria. A sensualidade e a sedução são marcas da feminilidade agora e se deslocam para o ser da mulher, de modo que não são mais patrimônio apenas dos homens. E vale ainda lembrar que a sedução não precisa mais ser encarada como pejorativa, com um caráter maléfico. Pode ter traços de doçura e de graça. A sedução é a revelação plena do desejo feminino, a conquista pela mulher de sua feminilidade. A bela atriz de cinema Greta Garbo pode ser ilustração disto, uma vez que fascinou a todos os sexos, que ficavam estonteados com a feminilidade de seu erotismo, a leveza de seus gestos, sua essência e poderia ser considerada a condensação do puro erotismo, a sua feminilização quase absoluta. Por isso permaneceu na memória de todos e no imaginário do século atual como aquilo que é mais do que o belo.”


Luciana Oltramari Cezar – Psicanalista.


http://www.flickr.com/groups/bemquerermulher/discuss/170204/


No link abaixo, um teste de feminilidade, para as mulheres que tiverem “paciência” para tal. Bom proveito!

http://galirows.com.br/teste1.php
.
.
.

sábado, 14 de maio de 2011

Jardim Zen

Inspirado na antiga lenda de um samurai, o jardim japonês virou significado de equilíbrio e harmonia, tanto no Oriente quanto no Ocidente. A história que teve origem no Japão e foi difundido mundo a fora é a seguinte: um jovem samurai resolveu abandonar a escola e seguir o caminho do mal. Seu mestre tentou fazê-lo mudar de idéia e, sem sucesso, foi obrigado a desafiá-lo em uma luta: era sua missão.


A experiência e equilíbrio do mestre foram decisivos para vencer o duelo e matar o jovem.Quando chegou a notícia da morte do aluno na escola, houve uma comemoração em massa, que foi interrompida pelo vencedor da luta. Indignado, o mestre ordenou que todos os alunos preparassem o jardim da casa do samurai, em homenagem ao ex-aluno. O trabalho foi realizado com ferramentas rústicas, e as pedras, utilizadas em número ímpar, foram deslocadas com a força dos braços.Para os japoneses, estas pedras significam as adversidades e o respeito. A idéia foi transportada para uma caixa, onde o "jardineiro" pode exercitar seu equilíbrio e refletir. A reflexão sobre os nossos atos, sobre a nossa prática e consequências das mesmas é uma constante busca pelo equilíbrio. .
.

Assista abaixo a entrevista com Mestre Tokuda, sobre o Zen Budismo e Artes Marciais:



.
.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Os Benefícios Físicos da prática do Karatê-dô

Desde cedo, pratico e pesquiso maneiras de potencializar os resultados das atividades físicas que me proponho a treinar. Pratico karatê, natação, corrida, musculação e ciclismo. Já pratiquei boxe, jiu jitsu, escalada entre outras tantas atividades que me pudessem me trazer prazer e desafio (e um pouco de endorfina).

Nenhuma se compara com o Karatê.

E isso não é uma constatação de um praticante apaixonado, é uma conclusão baseada em fatos. Nenhuma atividade consegue envolver tantas musculaturas, tendões, ossos, nervos, variação respiratória, explosão, força, velocidade entre outras. A integração da mente com o corpo ocorre de forma natural e os nossos bloqueios e limitações são rompidos um por um a cada treino. É uma forma de reconstrução da nossa estrutura fisiológica e mental.

Já tive períodos que havia parado de praticar e continuei fazendo outras atividades físicas de forma intensa e quando voltava a treinar karatê sentia dores em musculaturas que ainda não estavam sendo trabalhadas mesmo com o meu crosstraining de esportes.

E como isso acontece?

Para os japoneses a forma de avaliar se alguém é saudável é olhar da cintura para baixo – a sua base e sua forma de caminhar. Já no ocidente temos a tendência a olhar da cintura para cima. Então surgem as diferenças e o ponto onde nasce o fortalecimento do corpo através do karatê: as posturas. Para que as técnicas sejam executadas com rapidez, precisão, força e suavidade, a postura deve ser firme e estável.


No karatê são dezenas de posturas onde as variações de ângulos de pés, joelhos, pernas e todo o conjunto dos membros inferiores são trabalhados desde a faixa iniciante. O próprio andar humano já é um desafio a gravidade onde projetamos nosso peso a frente causando um desequilibro e voltando a nos estabilizar através de um jogo dinâmico de apoios e centro de equilíbrio corporal. Porém como tudo no karatê o objetivo é ir além.O objetivo dessas posturas é tirar o praticante da sua zona de conforto ir além de um simples movimento. O deslocamento de um lutador de karatê é diferenciado, seus pés são raízes que podem a qualquer momento se transformarem em folhas suaves em contato no solo. A postura das pernas pode variar para qualquer direção e ainda manter o praticante estabilizado.

Essa estabilidade tem função direta no combate. Porque não podemos nos preparar fisicamente para uma luta pensando que iremos atacar e defender em linha reta para frente e trás e somente de pé. Temos que estar prontos para eventuais improvisos de posição, possíveis irregularidades no terreno e deslocamentos efetivos sob qualquer ângulo de defesa e ataque. Por isso é exigido tanto da base de um karateka.  

Passamos para o quadril que diariamente usamos quase de forma “robótica” – duros e tensos. No Karatê o quadril ganha movimento de rotação (entre outros). E isso fortalece o abdômen, as costelas, as ligações da coxa com o fêmur e os músculos que envolvem as articulações das pernas. Meu professor sempre nos lembra dos quatro fatores que envolvem os movimentos do karatê:
  • Pressão: contato com o solo
  • Rotação: o giro que o quadril e outros membros podem fazer durante o movimento
  • Vibração: pequenos movimentos de todo o corpo visando maior poder de impacto
  • Deslocamento: o movimento dinâmico de avançar/recuar em qualquer direção
E temos também a respiração - porém sobre isso pretendo escrever num tópico especial.

Por exemplo, quando praticamos um kata temos a possibilidade de verificarmos com clareza todos esses conceitos aplicados. O Kata não é simplesmente uma forma de luta contra vários adversários, é também, uma forma de exercício. Tanto que muitos movimentos foram criados com esse intuito, fortalecer o praticante. Uma forma solitária de treino disponível em qualquer lugar e tempo que o indivíduo se dispuser a treinar. E com a correta postura aliada ao conjunto superior do corpo temos a busca da sincronia de movimentos no karatê. Todo praticante de karatê acaba se tornando um estudioso do seu próprio corpo visando atingir a sua alma. Através do suor da prática, das dificuldades motoras, da superação e do desafio constante que o karatê promove, o indivíduo está no caminho de descobrir a si mesmo.

E o que buscamos com toda essa movimentação corporal? Uma simples ginástica? Não! Todo o envolvimento da prática é a busca do Kime (foco). O poder de uma defesa ou ataque está no Kime.

De nada adianta o praticante se movimentar como se estivesse dançando ou estrategicamente jogando com seu corpo se o resultado final de uma técnica não tiver Kime – A energia final com foco. No karatê não existem mistérios ou coisas que não possam ser atingidas, e o kime é a forma mais efetivo de representar o poder físico e mental de um praticante. Em outras atividades físicas os movimentos podem ser similares, porém o Kime é que nos torna diferentes. E no Kime que repousa o grande benefício ao nosso organismo e do nosso fortalecimento físico e mental. É a busca do Kime que nos faz conhecer tantas posturas, tantos movimentos físicos e concentração. É através do Kime que crescemos e amadurecemos como praticantes e seres humanos.

Todo benefício físico do Karatê só pode ser sentido através da prática constante. Um movimento leva a outro e a outro ainda mais difícil. E na evolução do treino que sentimos o nosso fortalecimento e contato com um rico e diferente universo. Porque o Karatê-dô vai além do esporte, onde a competição e respostas são buscadas fora do indivíduo, no Karatê-dô existe um diálogo interno.

Uma vez, quando era faixa colorida e treinando forte após duas horas de treino, fiquei chateado com a quantidade de correções exigidas pelo meu professor. Imaginei “quando” chegaria num estado onde ele não me corrigisse mais ou me perguntei se ele não estaria de “implicância” comigo. Tomei coragem e resolvi questioná-lo (de forma respeitosa) após o treino. Tenho muita sorte do meu mestre – apesar da disciplina que nos impõe – ser uma pessoa aberta a esclarecer as dúvidas e disposto a interagir com seus discípulos. Num passado, não muito remoto, professores nem responderiam as perguntas dos seus alunos (por ignorância) ou diriam:

“- Treine, um dia você irá entender”.

Felizmente esse não é o caso do meu professor, que já teve as mesmas dúvidas e não se omite em responder as questões mais absurdas dos alunos. Fui e perguntei: “- Sensei Malheiros, chegará um dia que eu não serei mais corrigido? Que terei um movimento perfeito?”. Ele de forma paciente me olhou e respondeu: “- a perfeição é algo estudado pela filosofia há séculos. É uma utopia humana algo que sabemos ser inatingível. Porém... temos que tentar certo?”

É o que nos resta. Tentar e nos beneficiar dessas tentativas, erros e acertos dentro do Karatê-dô.

Oss


domingo, 8 de maio de 2011

O Poder da mudança


Me impressiono com a capacidade do ser humano em agir de forma teimosa e egoísta. Somos o que podemos ser, não precisamos mudar nada, porém a mudança é inevitável, senão ainda andaríamos de quatro, como macacos. 


E pior: não ouvindo, não vendo e não falando (veja figura acima). Porém fingindo que pensa. Se podemos evoluir em muitos aspectos, a pergunta seria: para que evoluir? para que mudar?

A resposta é simples: para melhor conviver com as diferenças!

E dentro delas usufruir de tudo de bom que as características de cada pessoa oferece. Usar o bom humor é fundamental, estudar para abrir a mente é vital, treinar o corpo e o espírito para se fortalecer é essencial. Crescer não implica na perda da inocência e do afeto, crescer serve para tornar mais fácil e efetivo o que temos dentro do nosso coração. A vida pede por crescimento (e evolução) e quando rejeitamos esse convite, logo o Universo se encarrega de nos colocar no nosso devido lugar, seja através de privações ou desafios pessoais, seja atráves da dor.


Evitar o óbvio - a mudança positiva - é ir contra a natureza humana. Manter o melhor no seu coração, bons pensamentos e ações, saúde e alegria é o mínimo que podemos fazer nos processos de mudança. O Caminho de cada um se define através das nossas ações. O tempo passa rápido e  é ótimo olhar para trás, com orgulho de ter construído relações sólidas, evoluído como ser humano e fazer a diferença. Não somente para os nossos, como para todos que usufruem da nossa presença.


Existem pessoas que justificam a sua forma de ser como sendo algo imutável, como se estivesse determinado no DNA (assim como doenças que podem estar inseridas na cadeia genética). Traços de personalidade, angústias, temperamento forte (e ser mimado) não são traços genéticos, e sim características adquiridas. Outros colocam a responsabilidade da sua felicidade em cima dos outros, querendo estabelecer um "contrato" onde o próximo deve cumprir inúmeras cláusulas da felicidade do próximo, baseadas em muitas frustrações passadas, oferecendo o mínimo ao próximo. Oras, a sua felicidade depende única e exclusivamente de você! 


Outros ajudam? sim. O próximo determina o quanto você será feliz ou infeliz? não.


A compreensão com o temperamento do próximo é um ato de amor e paciência. O entendimento sobre o tempo de mudança das pessoas que nos cerca é o mínimo, que podemos fazer, pelos nossos amigos e entres queridos. É disso que, talvez, Jesus tenha falado: "ofereça a outra face". Uma metáfora, não no caso de se deixar levar tapas na cara a toda hora, porém em ter paciência e respeito com o tempo - e mudança - de cada um. E quem não quer ou não vai mudar? não irá evoluir será um sugador da energia de tudo e todos ao seu redor. Terá mágoa e inveja dos outros, por causa da sua própria fraqueza.


Viver de passado e pensar que no futuro as coisas serão diferentes? Futuro e passado não existem. Somente o "presente" (a dádiva do agora) é que vai fazer a diferença. Faça o bem agora, sirva o próximo e conviva da melhor maneira, nem que para isso tenha que abrir mão das suas idiossincrasias, no final você verá que valeu a pena!



Liberte-se e mude! 

sábado, 16 de abril de 2011

A Solidão do Treinamento Físico.

Sou um esportista por natureza. Sempre fui agitado e praticar atividades físicas me possibilita aplacar essa agitação. Dou graças às iniciativas dos meus pais, que começaram me estimulando através do meu primeiro esporte, a natação e depois no Judô e finalmente, por iniciativa própria, o Karate-do.  Certamente o corpo humano foi desenhado para o movimento. Uns tempos atrás o famoso e coerente Dr. Dráuzio Varella comentou numa entrevista sobre o “design do corpo humano”, que a musculatura, articulações, tendões, nervos entre outros são o conjunto ideal  para atividades físicas.


Quando iniciamos uma atividade física geralmente convidamos  amigos, com o objetivo de ter pessoas amigas ou conhecidas, ao nosso redor para nos estimular. Inscrevemo-nos numa academia, começamos a caminhar, nadar, lutar, suar com amigos, parentes, esposa, marido, namorada (o). Esse é sempre um bom início, um “start” para a nossa empreitada. Entendo que não é fácil para um sedentário sair de casa, do seu conforto, para se dedicar a malhação. A própria palavra já indica, na sua etimologia, um sofrimento.

Então porque malhar? Porque insistir no treinamento físico?

Porque é tão necessário quanto outros hábitos. E realmente funciona quando se torna um hábito, não uma obrigação. No decorrer da jornada de treinamento vamos perdendo as companhias por problemas de agenda (ou boa vontade), especialmente porque nossos colegas não conseguem enxergar a atividade física como um elemento importante na rotina.

Então devemos insistir na malhação, sozinhos. E quando olhamos para o lado não há ninguém. Apenas você perseverando com seus pesos, nadando, lutando, socando, chutando, correndo.

Esses dias, num lindo comercial da marca Olympikus, eles mostraram pessoas correndo sozinhas à noite, na chuva, de madrugada através das entranhas da cidade grande. Cada um no seu ritmo e...sozinhos e questionaram: Por quê?



Sim, é difícil encontrar parceria para tudo que fazemos na vida. É difícil conciliar gostos e sabores, imaginem uma atividade física. Por isso, muitas vezes estamos sozinhos na malhação. E não escrevo isso em tom negativo - e sim - para enaltecer o caráter nobre de se persistir no seu objetivo, ainda que sozinho. Isso constrói, amadurece e traz qualidade para o seu desenvolvimento físico. Tive centenas de horas, dias, meses em que treinei sozinho. 


Lembro-me que com 15 anos de idade estava competindo com Mountain Bikes. Então sofri um acidente no colégio e machuquei o Menisco. Fiquei com a perna imobilizada, por um tempo e impossibilitado de treinar.

Quando voltei, lembro-me de não conseguir empurrar e puxar o pedal da forma correta, com força e velocidade. Então ia pedalar na estrada entre cidades próximas, na faixa para evitar novos tombos. Sem força – empurrava a perna com o braço. Sempre sozinho.

Naquele ano, me recuperei e consegui ser Campeão Estadual juvenil de Mountain Bike.


Ainda nessas passagens lembro que, ainda na adolescência, por alguma razão, fui proibido de andar com a  bike enquanto minhas notas não melhorassem na escola. Infelizmente havia uma competição marcada, na minha cidade e em pleno domingo de manhã. No dia, saí de manhã cedo para a competição, corri de bike, me sujei todo, venci e voltei voando para casa. Tomei um banho, roupa limpa e machucado, porém fui encontrar meus pais. 

Não comentei da competição, pois eu “deveria” estar de castigo de pedalar. Na segunda-feira de manhã, para minha surpresa uma matéria no jornal da cidade com uma bela foto minha pedalando. Não tive punição, pois afinal tinha vencido a prova e era algo saudável. Mesmo assim ficou o mal estar. 

A vontade de treinar, competir e envolve-se com uma atividade física é sempre solitária. E mais consistente, quando tomada sozinho.

Muitas vezes, tenho que treinar Karatê sozinho. Procuro me observar e corrigir - brigo comigo mesmo - repito centenas de vezes um movimento até chegar próximo do ideal.  E isso requer um tempo - solitário - para surgir às questões que irão qualificar o treino e a forma. Os "insights" da psicanálise ou "satoris" do Zen.

O treinamento físico é um desafio individual. A evolução conquistada será única e exclusivamente sua. Os ganhos e perdas físicos e calóricos serão seus. O músculo tem uma memória e cada dia que você treina envia a mensagem de esforço ao seu sistema físico. Força, agilidade, equilíbrio, coordenação, explosão entre outros crescem com o seu treinamento. Seu temperamento é domado, sua vontade testada e sua convicção de estar no Caminho certo é reafirmada a cada treino e dia vencido.

Sou a favor de se levar a atividade física - por vezes - ao extremo. Impor-se limites maiores e mais desafiadores. Não acredito em atividades físicas onde não existe suor e um pouco de dor. Sei que educadores físicos, médicos e fisioterapeutas (mais carolas) poderão discordar da minha opinião. E entendo o ponto deles. Entretanto sempre tive a atividade física com a intenção de fortalecer meu lado fraco, de cultivar o espírito de lutador que é da minha essência. 

E dentro disso o suor, dor e privação encontram-se sempre presentes.

Tenho certeza que o avanço da idade e das minhas demandas pessoais e profissionais vão me limitar, no futuro. Tenho certeza que os avanços físicos serão menores, e as dores maiores, porém também tenho certeza que irei persistir nos treinamentos, dentro da condição que for.

Na vida sempre  recebemos pequenas mensagens que o Universo nos oferece. A solidão do treinamento físico tem muito a ver com as solidões que temos que suportar na nossa vida. E partes das mesmas nos oferecem a oportunidade de crescermos, de amadurecermos como seres humanos. A solidão é vista de forma negativa por muitos e até assustadora para alguns - todavia pode ter o caráter de reflexão para a produção de coisas positivas no futuro. Afinal, cada um de nós tem uma vida única, como se fosse um livro original, de única edição.

Quando treinamos em noites escuras, em salas vazias, nas madrugadas onde somente os pássaros são a nossa companhia. Quando corremos na rua e começa a chover, ventar, fazer frio a ponto das mãos congelarem, quando percebemos que talvez a melhor coisa fosse desistir e voltar para casa...então olhamos para o lado e não temos ninguém...finalmente...

Percebemos que não estamos sós.

Percebemos que não existe melhor companhia, para alguns momentos, que nós mesmos.





Sobre Endorfina: