domingo, 27 de fevereiro de 2011

E a nossa Liberdade?

Livre-arbítrio é a crença ou doutrina filosófica que defende que a pessoa tem o poder de escolher suas ações. Porém do que realmente se trata? O contato mais comum que temos com essa expressão vem muitas vezes da religião, que utiliza a expressão como justificativa para a "não-interferência" de Deus nas nossas decisões. Seria então o livre-arbítrio uma dádiva divina que nos dá liberdade.

A filosofia, psicologia, sociologia, religiões e doutrinas estudam o livre-arbítrio como forma de compreender as ações humanas. Não vou me estender as várias concepções da nossa liberdade de escolhas, vou escrever sobre questões referente ao tema.

Se temos liberdade para optar por situações em nossas vidas onde fica a nossa responsabilidade perante as outras pessoas? família, amigos, trabalho, sociedade? no caso, desde o momento que nascemos já estamos compromissados com um meio social e expostos a um ambiente. Os espíritas diriam que cada pessoa nasce já na família que precisa para se purificar como espírito e acrescentam que nossos melhores amigos encarnam sempre próximos a gente, para nos ajudar nessa purificação da alma.

Então no caso a nossa liberdade já estaria comprometida, pois não escolhemos onde vamos nascer.

E quando tomamos consciência do poder das nossas escolhas? nesse momentos estamos cientes da nossa realidade e podemos mudar nossos destinos. Porém para muitos falta um atributo básico: coragem. Muitas pessoas gostam de viver escravas dos seus problemas e se acovardam em enfrentá-los. Buscam ajuda em conselhos, mobilizam de forma egoísta os familiares e amigos, para então, decidirem não mudarem nada. Ou partem para a reclamação e se tornam, com o tempo, pessoas amargas e sem vida.

Num exemplo clássico, indagado sobre a liberdade e o poder de escolhas, o filósofo Sartre* foi exposto ao exemplo de um soldado na guerra, no campo de batalha. Nessa situação, o soldado não teria escolha nem liberdade, pois na guerra deve matar o inimigo - é a sua vida em jogo. Sartre explicou que não, que mesmo na guerra o soldado tinha poder de escolha e muitos soldados morrem por não conseguirem matar o inimigo. É uma situação extrema, porém ainda assim temos liberdade para escolher mesmo que as consequências sejam graves para nós.

Na nossa sociedade temos convivido com uma demanda imensa de informações, e, por vezes, nos vemos "escravos" da engrenagem social ao nosso redor. São informações morais e éticas que nos conduzem a agir de determinada maneira, como por exemplo: instituir família, casar, ter filhos, ganhar dinheiro, comprar carro, casa, ser feliz, envelhecer e morrer. Dentro disso tudo, temos algumas coisas que enriquecem nossas existências e passam despercebidas.

Podem ser pessoas que conhecemos, experiências que deixamos de viver, opções que deixamos de escolher ou limites que nos colocamos para tudo. Então não estamos utilizando a nossa liberdade da melhor maneira, somos prisioneiros de nós mesmos. Porém não seria isso uma opção? não seria isso o uso do nosso livre arbítrio?

No Budismo temos o Karma é a palavra para "ato" ou "ação" e, nesse sentido, usa-se a palavra em textos mais antigos para ilustrar a importância de desenvolver atitudes e intenções corretas. Considera-se que por gerar carma os seres encontram-se presos, e portanto, a última meta da prática budista é extinguir o carma. Então, para o Budismo, estaríamos determinados na nossa vida e escolhas. Seria o equivalente a terceira lei de Newton da física: "Para toda ação existe uma reação de força equivalente em sentido contrário".

De forma concreta o que podemos fazer com o nosso Livre-arbítrio?

Acredito que podemos ter consciência dele, maturidade para aceitar que o nosso poder de escolha diz respeito somente a nós e agir em prol disso, sem colocar a culpa das nossas escolhas nos outros ou no destino. A única certeza que temos é que estamos vivos e que o nosso presente é aqui e agora, e que as nossas ações, são importantes para gerar tanto o bem, como o mal em nossas vidas.

Podemos evitar agir de forma covarde com nós mesmos e com os outros, criando expectativas de coisas que não irão ocorrer ao acaso, ou ainda acreditar, que podemos mudar nosso presente a partir das nossas ações reais em busca de uma outra realidade.

São Tomé, um dos apóstolos de Jesus, em uma passagem da bíblia (João 20:24-29) duvida da ressurreição de Jesus e diz que precisa "ver para crer" as chagas de Jesus.  O autor Roberto Shinyashiki cita o exemplo em um dos seus livros e o transfere para o campo da administração, refazendo a frase que fica assim: "crer para ver". Ou seja: temos que acreditar que a nossa liberdade de escolha é significativa - para ver algo acontecer.

Sem convicção e ação em prol disso nada poderá se realizar de positivo em nossas vidas.

Nem sempre iremos acertar, porém não podemos deixar de tentar. Não podemos nos omitir perante a nossa própria existência, permitir injustiças com o próximo ou nos alienar de nós mesmos. E para isso já temos a ferramenta básica dentro de nós, basta ter a vontade e coragem de usá-la. Com certeza toda a vez que tentamos com coragem, verdade, razão e amor os resultados são maravilhosos.

Falar nisso...creio que esse assunto terá (e merece) várias continuações.




Para saber mais sobre Livre-arbítrio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio

* Jean-Paul Sartre Filósofo francês, nascido em Paris, em 1905, falecido em 1980. Sartre destacou-se não somente com as obras filosóficas, mas, sobretudo com as literárias, foi inclusive agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1964, após a publicação de As Palavras. Porém recusou-se aceitá-lo por entender que seria reconhecer que os juízes tivessem autoridade sobre sua obra. (fonte: Professor Rodrigo)

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