Olhando ao nosso redor podemos perceber a quantidade de
coisas inúteis que temos. Algumas são memórias de um momento, de pessoas
queridas outras são peças de decoração e mais adiante temos objetos sem
necessidade alguma em nossas vidas. E assim nos relacionamos também com
sentimentos, pessoas, neuras e manias que possuímos. A que custo nos levou a
consumir o que não precisamos?
Como eu escrevi antes, isso vai muito além dos bens
materiais.
Viver de forma simples não é viver de forma simplória, já
diria o mestre Cortella (veja vídeo abaixo). Alimentamos nossas ansiedades e
frustrações com bens materiais e temos isso por hábito que está enraizado na
nossa educação. Infelizmente isso se estende aos nossos sentimentos, alegres ou
tristes. Machida Sensei diz que devemos procurar não se apegar a sentimentos
como derrota ou vitória extrema. Sim, pois acabamos por nos deixar levar por
essas emoções o que cria picos de euforia e tristeza em nossas vidas. E de
forma desnecessária.
Uma parte do nosso apego às coisas tem haver com o ego. Precisamos
de ferramentas que nos façam sentir mais queridos, poderosos, bonitos e
aceitos. Todavia acabamos nos deixando levar por esse traço da nossa rotina e
criamos venenos de conduta.
Inevitavelmente iremos nos apegar a outras coisas e
condutas e isso irá nos atrapalhar nas relações profissionais e pessoais.
Dentro disso, saliento que escrevo baseado nos meus próprios fracassos (que são
muitos e bem mais frequentes que as vitórias).
Criar o desapego é uma construção diária. Pode ser na ação de doar algo. Pode ser pedindo desculpas por falhas, por mudar um hábito que lhe faz mal ou por dedicar alguns minutos para ouvir estranhos e – pasmem – até pessoas que você ama.
Para os japoneses, parte de ser simples e desapegado, tem
haver com a organização. Quando temos bagunça ao nosso redor ou nossos
pensamentos estão poluídos a ponto de nos fazer perder o foco nas graças que
temos e no nosso equilíbrio, perdemos o que é preciso: nossa paz interior.
Ninguém é monge ou almeja alcançar o nirvana nessa encarnação. Alguns pensam estar vivendo de forma abundante, apegados à matéria e emoções.
Outros querem melhorar como seres humanos, colaborar nessa existência com algo maior e deixar um legado, uma lembrança, para tal o ideal é livrar-se do que lhe tranca o Caminho. Entregar para o Universo o que não tem mais uso, material ou abstrato, ambos - em excesso - podem fazer parte ou não do que você é.