domingo, 11 de fevereiro de 2018

O desapego como terapia


Olhando ao nosso redor podemos perceber a quantidade de coisas inúteis que temos. Algumas são memórias de um momento, de pessoas queridas outras são peças de decoração e mais adiante temos objetos sem necessidade alguma em nossas vidas. E assim nos relacionamos também com sentimentos, pessoas, neuras e manias que possuímos. A que custo nos levou a consumir o que não precisamos?


Como eu escrevi antes, isso vai muito além dos bens materiais.

Viver de forma simples não é viver de forma simplória, já diria o mestre Cortella (veja vídeo abaixo). Alimentamos nossas ansiedades e frustrações com bens materiais e temos isso por hábito que está enraizado na nossa educação. Infelizmente isso se estende aos nossos sentimentos, alegres ou tristes. Machida Sensei diz que devemos procurar não se apegar a sentimentos como derrota ou vitória extrema. Sim, pois acabamos por nos deixar levar por essas emoções o que cria picos de euforia e tristeza em nossas vidas. E de forma desnecessária.

Uma parte do nosso apego às coisas tem haver com o ego. Precisamos de ferramentas que nos façam sentir mais queridos, poderosos, bonitos e aceitos. Todavia acabamos nos deixando levar por esse traço da nossa rotina e criamos venenos de conduta. 

Inevitavelmente iremos nos apegar a outras coisas e condutas e isso irá nos atrapalhar nas relações profissionais e pessoais. Dentro disso, saliento que escrevo baseado nos meus próprios fracassos (que são muitos e bem mais frequentes que as vitórias).

Criar o desapego é uma construção diária. Pode ser na ação de doar algo. Pode ser pedindo desculpas por falhas, por mudar um hábito que lhe faz mal ou por dedicar alguns minutos para ouvir estranhos e – pasmem – até pessoas que você ama.


Para os japoneses, parte de ser simples e desapegado, tem haver com a organização. Quando temos bagunça ao nosso redor ou nossos pensamentos estão poluídos a ponto de nos fazer perder o foco nas graças que temos e no nosso equilíbrio, perdemos o que é preciso: nossa paz interior.

Ninguém é monge ou almeja alcançar o nirvana nessa encarnação. Alguns pensam estar vivendo de forma abundante, apegados à matéria e emoções. 

Outros querem melhorar como seres humanos, colaborar nessa existência com algo maior e deixar um legado, uma lembrança, para tal o ideal é livrar-se do que lhe tranca o Caminho. Entregar para o Universo o que não tem mais uso, material ou abstrato, ambos - em excesso - podem fazer parte ou não do que você é. 







Um comentário:

  1. Parabéns pelo belo texto.
    Citando uma de suas frases
    ...Criar o desapego é uma construção diária.
    As tentativas são diárias, porém os fracassos também.
    Sou de doar, sou de ajudar, sou de pedir desculpas, mas sinto que estou sendo consumido pelo apego as coisas materiais.
    O "adquirir" supri com vontades e necessidades que não sei nem explicar.
    Estou tentando reverter essa realidade.

    ResponderExcluir