terça-feira, 25 de março de 2014

A rede - que pega o seu peixe - social.


Sou cliente da internet desde a sua aparição no Brasil, graças a um ambiente familiar favorável a tecnologia e novidades da área. No Rio Grande do Sul o primeiro provedor foi um órgão do estado, a PROCERGS. Quase não existiam sites para se visitar e usávamos apenas e-mails e precários chats para nos comunicar com uma pequena quantidade de usuários que já tinham internet.  Após surgiram outros pequenos provedores, Nutec, depois Nutecnet, após o ZAZ e finalmente, o Terra. Instalava-se a internet, ainda não para todos.


Minha monografia na faculdade de Comunicação Social – Propaganda – foi sobre a internet e seus caminhos. Isso em meados de 2001 (13 anos atrás) onde estudei a fundo os autores que falavam sobre essa nova mídia e já elaborávamos, todos nós, teorias a respeito.

É fato que o formato de hipertexto (links que você clica numa palavra e surgem outros conteúdos) já existia, em livros, a centenas de anos. Ainda que essa necessidade de nos comunicarmos e formarmos pequenas “tribos” faz parte da nossa cultura e sociedade.

Tenho plena consciência do caráter volátil das tendências na internet. Empresas nascem e morrem a todo o momento nesse ambiente virtual, e o que é moderno hoje (Cult), torna-se ultrapassado e brega em pouco tempo. É assim que tem que ser na tecnologia de informação.

Uma das características da internet que a tornam tão atraente é a capacidade de interação do usuário. Após décadas com uma inovação chamada TV, onde apenas recebíamos informação em massa e bem mastigada, como se estivéssemos vendo o mundo através da tela (na realidade estávamos dentro de uma caverna, sem olhar para fora - sabia mais em "O mito da Caverna") chegamos ao ponto de termos interatividade. Trocávamos informações.

O novo Orkut - e agora já antigo, Facebook


O Artista Andy Warhol, um ícone do século XX disse em 1968: “- no futuro todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”. Através da rede social, muitos acreditam que são famosos por mais que quinze minutos! Massageiam o ego e procuram tapar buracos da sua existência. E da sua vida. Mostram apenas o lado bom do seu jardim e a demagogia é liberada. Atualmente a rede social não é apenas uma ferramenta de comunicação e troca de informações, infelizmente se tornou uma perigosa fogueira de vaidades. Esse um dos sete pecados capitais, o orgulho ou vaidade do Latim superbia, vanitas. Como disse Al Pacino num filme que representava o demônio: "- o meu pecado favorito!" 

Tomei a decisão de reduzir o uso dessa rede social. Ainda estou lá, tenho esse recurso quando necessário. Quero preservar o contato com pessoas que me são queridas e estão longe fisicamente.

Ainda assim, cansei de tanta babaquice sobre política (como se algum partido ou político tivesse a solução para o Brasil sem uma reforma política), sobre futebol e Copa do Mundo e seus abusos, sobre filosofia de pára-choque de caminhão (alguns caminhões possuem mais sabedoria do que muitas frases prontas de perfis). 

Lamento para quem – como eu fazia – utiliza a rede social todos os dias para se comunicar apenas. Estamos expostos a uma falta de bom senso em postagens. Ainda assim, podemos filtrar ao máximo as amizades e o que queremos ver ou não, entretanto, estamos à mercê de bobagens sem fim. Tolerância, diria o mestre Dalai Lama. Paciência, diria nosso querido Papa argentino.


A superficialidade de conteúdo é uma tendência mundial na internet. Aliado a isso, algumas más características da nossa cultura brasileira (tão rica em outros aspectos) adiciona a futilidade a rede social. As pessoas antes de postarem algo são incapazes de pesquisar no Google a respeito. Não pensam e apenas agem. Estamos consumindo coisas sem sentido e usando uma falsa comédia, muitas vezes, de mau gosto para preencher linhas do tempo. Estamos curtindo gente, que de fato, não conhecemos.

Decidi dedicar qualquer tempo livre a ler mais revistas e livros. A conversar mais com pessoas. A pensar ou simplesmente – pasme - não fazer nada. Esvaziar a mente, apaziguar os pensamentos e focar na vida que ocorre fora da vida dos outros. Ou também, trabalhar mais. Criar mais soluções e fazer render o tempo. Vejam bem: não é falta de interesse na vida de amigos ou familiares que são importantes. É evitar a decepção com amigos e familiares sem conteúdo e com pensamentos pré-conceituosos e materialistas.

Ser famoso por quinze minutos não é importante. Fazer a diferença da vida de alguém é que realmente importa. Fazer a diferença na vida real (não virtual) e ter um retorno ao vivo. Por exemplo, Na nossa última ação social, conseguimos doar brinquedos para crianças carentes no fim de ano. Essas crianças não estavam na rede social, ninguém queria saber delas, mesmo elas estando próximas das suas casas. Elas não são importantes e não merecem “curtis” de ninguém.

Fomos lá e fizemos a diferença.

Numa caminhada descontraída pela cidade, passei por uma família revirando um contêiner de lixo. Uma criança grita: “- professor! Professor!”. Eu me viro e não reconheço seu rosto. Pergunto onde eu dei aula para ela, a pequena diz meu nome e mostra o brinquedo que recebeu há alguns meses atrás. O irmão, um pouco maior, vem falar comigo. Os pais se aproximam e me agradecem. Todos sorriem. Eu com tanto e eles com tão pouco. Saio do encontro revitalizado. Em tantos anos de internet ainda não podemos encontrar esse tipo de sensação fora da vida real. Claro, se temos uma vida digna de ser vivida, também podemos usar os recursos de uma rede social. O difícil é usar com sabedoria e alegria, sincera.

Por isso, viva e torne a sua vida mais real. Torne a sua vida mais colorida e cheia de nuances. Interaja com a natureza e com pessoas que lhe acrescentem. Desafie-se. Rompa seus pré-conceitos e evite valorizar o aspecto material ou a aparência das pessoas. Seus troféus, medalhas e conquistas não dizem muito sobre o seu caráter. Certificados de papel não deixam um legado para as próximas gerações. Viva com fé. Duvide das suas verdades e de pessoas que não praticam, apenas mandam ou vivem de passado e falsas morais. Reaja e inove.

E caso não gostes de nenhuma dessas opções, poste algo no Facebook e sinta-se melhor.

                                               

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