sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

Começou a neurose da virada, ano velho para a Ano Novo e coisas e tal...

As massas enlouquecem entre Natal e Ano-Novo. O pessoal fica emotivo, choram, se abraçam, fazem promessas, juras de amor eterno, pulam sete ondinhas...comemoram.

Comemorar a vida é válido. Comemorar as vitórias e derrotas. Celebrar estar ativo e vivo, bem de saúde. Todos os dias é ano-novo, se pensarmos. Independente de data, todos os dias quando acordamos podemos comemorar. É um pensamento budista. Tem dias que não é fácil pensar assim, porém no "conjunto da obra" da nossa vida é assim.

Se nossa vida fosse um filme longa metragem, nós seríamos os protagonistas. Os personagens principais, aqueles atores que o nome aparece primeiro nos créditos. E se somos os mocinhos desse filme da nossa vida, então teremos um final feliz, seja ele qual for. Agora uns escolhem ser os bandidos do próprio filme (alcool, drogas, etc). Aí já viu né? bom isso é outra história.

Para finalizar, como os detalhes são importante na nossa vida. Estava eu passando pela cozinha e vi escrito num pano de prato: " Harmonia se obtêm pela Virtude". Que bela frase para um pano de prato heim?

Minha mãe filósofa já diria: " Harmonia se obtêm pela boa vontade ". Então desejo muita harmonia a todos os meus amigos e familiares, onde quer que vocês estejam. Abraços

Feliz 2011!
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Férias e Blog?

Quem ler os meus "espasmos mentais" em forma de texto...não se preocupem:
estou de férias, a uma quadra do mar, vou a praia, tomo sol, nado na orla da praia e curto a natureza e uma boa soneca depois do almoço. Só que na minha casa tem internet, também não quero virar um pescador né? Not yet.

Boas leituras.
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Imensidão azul

Praia de Jurerê com a Ilha do Francês ao fundo
Eu tenho essa estranha mania de praticar atividades físicas. Hábito saúdavel, eu sei, porém muita gente acha estranho. Questionam como eu arrumo tempo e vontade. Eu gosto porém - com certeza - eu sei que ficar em casa dormindo, comendo, bebendo, assistindo TV ou ainda na praia atirado que nem um frango assado no sol é melhor e mais fácil. Eu me esforço para me organizar e fazer as atividades e continuar com essa hábito que me faz tão bem.

A gente acostuma com as coisas, com a inércia principalmente.

Todos os dias vou nadar no mar. Aqui em Florianópolis, praia de Jurerê, o mar é calmo e limpo. Sempre transparente com tons de azul e verde. Nado no final da tarde. Entro com óculos de natação e sunga, preparado para nadar pela orla num distância de uns 1.500 m ida e volta (o meu trajeto). Dou pequenas pausas para verificar se nenhuma embarcação está próxima e sigo nadando.



A natação foi o meu primeiro esporte. Comecei com 6 anos e parei aos 16 anos. Voltei em temporadas e nos últimos 2 anos tenha nadado na Vila Olímpica da Universidade (UCS). Adoro nadar, me faz muito bem. Eu costumo ter dores nas costas e a natação virou um "anti-inflamatório natural". Depois que nado, não sinto mais dores e a prática me proporciona um bom relaxamento.

Na praia a natação fica um pouco difícil. No mar, o ambiente muda rapidamente: vento, correntes, sol, chuva, etc. Já ouvi de pescadores que temos que respeitar o mar. Eu respeito e gosto.

Hoje na ida do trajeto, o mar estava calmo. O deslizar das braçadas eram fáceis e o tempo colaborou, sem vento nem ondas. Nadar no mar é estranho, porque a gente não enxerga nada lá no fundo. Me pergunto se não é por causa disso que os peixes tem olhos dos lados, porque quando nadamos, quebrando o mar, não conseguimos olhar para frente, somente para os lados.


Na volta do meu trajeto tudo mudou: começou a ventar e logo começou a chover. Fraco, porém chuva. E mais: o mar começou a empurrar contra o meu sentido, com uma ondulação. Pensei em desistir e ir caminhando pela praia, porém essa não era a minha proposta inicial e tinha que persistir. No mar, contra a corrente, cada 2 braçadas você volta 1. As pernas correspondem a 30% da impulsão, 60% são os braços e 10% é o balanço que você faz com o corpo e a flutuação do teu corpo.

Comecei a pensar naquela música do Cazuza "nadando contra corrente, só para exercitar" e segui. A chuva aumentou e o vento também.

Segui forçando, forçando, forçando. Olhava para um ponto de referência na praia, uma tenda verde e amarela e procurava passar por esse ponto. Baixava a cabeça e nadava, nadava. Olhava e o ponto de referência na costa continuava no mesmo lugar. Que m....eu nadava, nadava, nadava e...a tenda quase não se movia. Ou seja: eu não me movia, não avançava o suficiente. Usava todos os recursos de técnica de natação, respiração, velocidade, força, tempo e o resultado era pouco.

Quando de repente o vento muda e eu começo a deslizar mais. Passei a tenda, ufa! e sigo nadando. O mar começa a se acalmar e a chuva a ficar mais forte. Me preocupo um pouco com a história de cair raios no mar e tal, porém de forma irresponsável ignoro isso. Sigo no meu trajeto. As pessoas na beira da praia começar a fugir da chuva e eu sigo nadando.


Uns 400 m antes de eu acabar meu trajeto, começo a sentir fisgadas no corpo. Penso que deve ser a circulação sanguínea, dependendo da temperatura da água e da intensidade da atividade pode dar um pouco de coceira na pele, no início. Bom, mas isso é no início e eu já estava no fim da atividade. Então as fisgadas aumentam, parecem mordidas. Penso: "- será que estou tendo um AVC?". Então levo um choque no rosto, como uma mordida. Paro de nadar pelo susto e dor, olho ao redor e não vejo nada. Penso nos meus amigos que já morreram afogados (três). Resolvo voltar para a praia. As dores aumentam. Finalmente chego na areia e começo a caminhar de volta para casa, com dores na pele e no rosto. Olho para o chão e encontro a resposta: água viva! Uma mortinha na beira da praia. Em 15 anos de temporadas nunca tinha visto esse bicho em Jurerê. Eis que me encontrei com eles no pior momento, durante minha natação e numa forte tempestade. 

Voltei para casa, passei um creme contra queimaduras e pesquisei no Google se não iria morrer. Não, ainda não. Realmente, hoje não foi um bom dia para eu nadar e o mar tentou me avisar. Que elemento maravilhoso esse mar, infinito em tamanho e sabedoria.

Comentário 24 horas depois do Post: estou bem, não ficaram marcas de queimadura e sigo nadando no mar, agora mais atento aos elementos habitantes do mesmo.
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Água Viva, saiba mais: http://ciencia.hsw.uol.com.br/agua-viva.htm

Teoria do Cascão

Conversando sobre a vida, com a “filósofa” minha mãe, tive a oportunidade de me aprofundar no que chamamos “A Teoria do Cascão”.

Minha mãe é uma pessoa sábia, educada, que soube usar todos os anos de estudos e leituras com a convivência de pessoas interessantes. É professora aposentada, porém se mantém ativa lendo, estudando inglês com um grupo da terceira idade na universidade, participa da Confraria da Champagne da cidade (grupo formado por mulheres), freqüenta a academia e vive bem.

Ela é uma professora nata. Vive para educar e se educar. Eu tive sorte de ser filho dela, por opção dela. Tá e a Teoria?

Convivo com pessoas que tem todo o tipo de formação: desde doutorado, como mestres, pós-graduados, especialistas em idiomas, curso superior, especializações entre outros títulos. Tenho a oportunidade de conversar e trocar idéias com pessoas que sempre buscaram o conhecimento, excelentes profissionais nas suas áreas. E convivo também com pessoas que me ensinam muito, estas sem formação superior nenhuma, porém são especialistas na prática da vida. São pessoas educadas, corretas e dignas e recorrem somente as suas experiências para se fortalecer.

Então me deparo com a "Teoria do Cascão". Essa diz que temos uma espécie de “casco de tartaruga” invisível na nossa conduta e personalidade. E por mais títulos de formação acadêmica que tivermos temos que atentar a nossa “genética”. As manias, formas de agir, personalidades e conduta em geral. Seria o “cascão”.

Um exemplo: uma pessoa de origem humilde, com os pais analfabetos que consegue se formar e tornar-se um bom profissional pode ter a tendência – em alguns momentos de deslize – de agir como uma pessoa sem educação. Ser grosseiro, estúpido, agressivo, cultivar maus hábitos à mesa, péssimos hábitos de higiene e ser desorganizado. Ou seja: uma pessoa educada, porém que usa mal a sua educação.

O “cascão” foi mais forte! E o que fazer para vencer o “cascão”? Primeiro a pessoa deve ser sensível a esses traços pessoais. Identificar e corrigir. Se policiar diariamente (se necessário) para (mesma vivendo sozinha) manter hábitos saudáveis. Não é algo neurótico é mais simples que parece. Se a pessoa mora sozinha ela pode comer algo na sala da TV, usar um prato (educação) e não usar um prato (cascão) é uma opção pessoal. Nesses singelos momentos o “cascão” aparece.

E o pior “cascão” é aquele que aparece na convivência com os outros. É achar porque tem intimidade com alguém pode fazer coisas que não faria na presença de estranho. Ficar a vontade com alguém - íntimo - é muito bom e louvável. Falar e escreve o que quiser com liberdade e bom senso é ótimo, trocar idéias, interagir e conviver com os entes queridos. Porém o “cascão” aparece com mais freqüência na convivência com os nossos próximos. Gente que por estar namorando (a) faz “xixi” na frente do outro, arrota, peida ou coisas assim. Nojento. É o cascão que vem a tona.

Ou gente que zomba dos sentimentos do próximo, sendo intrometido ou inconseqüente em comentários e julgamentos. Agindo com pré-conceito com amigos e familiares e demonstrando isso através de palavras, que ferem o próximo e que devem ser ignoradas. Incrível que tem pessoas que mesmo sem formação nenhuma NÃO possuem o “cascão”. Pode? Sim pode sim. Bom senso e educação não se ensinam nos bancos acadêmicos e sim durante a vida.

Sorte de quem não tem “cascão” e paciência para nós, pobres e fracos mortais, que temos que lidar com os nossos “cascões”...

Vai um vídeo para ilustrar um pouco dos "cascões" que andam por aí, por Gloria Kalil:

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Kata Empi - By Yahara Sensei

Dignidade e Coerência

Atualmente estou treinando diariamente os katas heians e os katas Empi e Kanku Dai. Terei que executa-los em janeiro, no módulo VIII do Curso de Instrutores da FSRKT. Estou tendo um enorme prazer em treina-los. Inicio o treino com os Heians e sinto que cada vez entendo mais e executo "um pouco" melhor os primeiros katas do meu estilo. Na faixa preta é que se inicia o treino, dizem. Realmente. Agora tenho chance de usufruir das ferramentas para identificar e melhorar minha forma, e sinto prazer nisso ainda que esteja longe do ideal.

Meses atrás eu sofri um acidente e estava machucado. Sem condições de treinar, dar aulas e muito menos executar um kata com decência. Ainda assim tive que me manter fazendo todas essas coisas, tenho responsabilidade com os meus alunos com o Caminho (Budô) que me escolheu. A dor era muita, nas costas, nas pernas, braços e no espírito. Tive que executar o Jion - um kata que gosto - porém não o fiz com propriedade. Levei mijada do professor no curso que participava, tentei justificar, porém não adiantou. Não existem desculpas para um guerreiro.

Hoje, já em forma e treinando, lembrei do meu professor (Sensei Malheiros) me corrigindo, em outro momento. Era uma correção de professor para aluno, leal, correta e fácil de ouvir e se fazer entender. Falava que o kata deve ser feito com “dignidade”. Sim, e o que significa isso? Pode significar muitas coisas, entre elas que temos que atentar aos detalhes da postura, de lutar. Não é uma simples coreografia e sim um combate real contra muitos adversários. E como lutador temos que estar com o espírito preparado para esse combate, com a forma limpa e coluna reta. Mãos fechadas quando devem estar fechadas e abertas de forma correta quando é necessário. As bases devem estar firmes, equilibradas e o kime deve ser colocado no momento certo. Não podemos executar um kata (pelo menos na frente de outros) com dores musculares, braço quebrado, sem controlar a respiração. Podemos evitar isso, pois se o quadro não é favorável, o kata também não será favorável a quem o executa. A tal “dignidade”.

Isso se aplica diretamente na vida. Quando vamos para uma entrevista de emprego (ou trabalho, um conceito mais moderno) vamos nos apresentar em farrapos? ou vamos procurar mostrar o nosso melhor, com dignidade e vontade? quando queremos vender uma idéia para alguém temos que mostrar o melhor da nossa idéia. Ou ainda em relacionamento, em momento de crise temos que manter a dignidade e respeito - fora disso, não vale a pena continuar uma conversa, mesmo com um ente querido.

E a “coerência”? Lembro que na minha adolescência não era conhecido por ser coerente. Era tudo em excesso ou em falta demais. Graças ao tempo, maturidade e outras ferramentas (terapia, karatê e espiritismo) melhorei. Me tornei um pouco mais coerente. E nos katas isso aparece muito, a tal coerência. Durante a execução os movimentos devem ser naturais. Quase não existem movimentos que possam causar uma confusão estética ou física, a confusão está nos nossos limites mentais e físicos. Na nossa falta de habilidade em executar os movimentos (avançados) por querer fazer já na primeira vez de forma perfeita. “ A perfeição é uma utopia” já diria meu mestre e complementava: “ ainda assim temos que persegui-la”. É o nosso Caminho.

Hoje consigo identificar quando estou fazendo algo errado num kata. Geralmente é um movimento que está fora de contexto ou mal executado. Então procuro na bibliografia ou pergunto a alguém mais experiente. Ou busco em vídeos de mestres que estão executando tal kata, sempre é interessante ver outras execuções. Cada biotipo tem uma forma de executar, todos com os mesmos movimentos, porém com detalhamentos técnicos diferentes.

Dignidade e Coerência são atributos que podemos almejar. Não é fácil para mim e não é fácil para ninguém. Ainda assim podemos almejar e conseguir. No Karatê-dô e na Vida.

Oss.
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Vinho que vira vinagre...

Estranho esse título, concordo. Coisa de publicitário para chamar a atenção. Diria um amigo meu: "- coisa de publicitário viado mesmo." No caso, até o momento, sou apenas o publicitário.

Quero escrever sobre os amigos. Tenho amizades que duram anos, algumas são desde a minha infância e adolescência. Não posso dizer que são amizades onde "nos frequentamos" pois muitos desses amigos moram em outras cidades, estado e até em outros países.



Gosto de observar as mudanças nos meus amigos, e por consequência, as minhas. É impressionante como algumas pessoas mudam das aspirações da juventude para a neurose da vida adulta. Pessoas legais que se tornaram marionetes, dependentes de celulares blackberry, i-phones e outras gadgets (em inglês: geringonça, dispositivo). Outros são apaixonados por carros último ano, trocam de carro e renovam as dívidas como trocam de academia, bairro, esposa, marido, namorado, namorada. Há também aqueles que vivem para viajar e o fazem 2 a 3 vezes ao ano para algum lugar. E só falam das viagens (estes são um pouco mais interessantes). Porém quando pergunto para eles: " - e você? como está? " não conseguem falar de si mesmos. Nada contra viagens, eu mesmo viajo e viajei bastante, agora falar só sobre isso?

Outros questionam de forma contundente: " - você AINDA não trocou de carro?" ou pior: " - você ainda não usa o i-phone?" e mais: " - você ainda mora em Caxias do Sul?" e a mais grave: " - ainda faz karatê". Tenho que rir.

Que insegurança é essa que muda pessoas legais e as torna uns babacas? depender de produtos empurrados guela abaixo para o consumidor, escravo de um mercado perverso - do qual eu faço parte do mecanismo, como publicitário - e além dos produtos estão os serviços. Agências de viagens, academias da moda entre outros. Tudo tão vazio! Ter ao invés de ser.

E onde estarão os meus amigos queridos, dentro daquela carcaça que parece ser o indivíduo que eu conhecia? que saudades de vocês. Alguns se tornaram amargos com a vida, outros ocupados demais para sonhar, outros obesos demais para me acompanhar numa corrida com um bom papo. Fico feliz quando encontro uns (raros) amigos e percebo que eles continuam com um bom coração, mesmo com as neuroses da vida moderna. Vinhos raros...
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Convívio familiar

Durante o ano, na correria do dia-a-dia não temos muito tempo de conviver com as nossas famílias. Na época de natal e ano-novo isso ocorre com mais frequência. Podemos observar algumas coisas, entre elas as mudanças dos nossos entes queridos, tanto física quanto de comportamento.

"- É a idade chegando..." diriam alguns. Concordo.

Tenho poucas chances de convívio direto com meus pais. Moramos em apartamentos separados e ainda que próximos físicamente, temos rotinas diferentes. Quando vamos para praia juntos no final de ano temos essa chance de conviência.

Não é fácil a adaptação a esse novo quadro. O que justifica isso? o amor.

Quer dizer que eles são pessoa horríveis de se conviver? claro que não! Porém cada um de nós tem as suas manias e idiossincrasias (do grego “temperamento peculiar”, composto de “peculiar” e “mistura”). Eu me incluo completamente nisso. Ainda assim eu pareço feliz, com o conjunto da convivência e isso só pode acontecer com a minha maturidade.

Percebo que gosto de sentir a presença do meu pai por perto. Me transmite algo como uma segurança. Parece algo que remota a minha infância, quando ele era a minha máxima referência. Durmo melhor, sabendo que eles estão pertos. Minha mãe, quando ela fala comigo, conversa...escuto a voz dela e aquele tom me acalma. Seria como um tom natural que venho escutando desde a mais terna idade e que é fácil de ser distinguido de outros sons. A voz dela conversando, é como uma música. Nas poucas vezes que viajamos juntos e eu de passageiro, durmo no banco de trás escutando a voz dela.

Seriam mais uma vez os detalhes, que me acompanham.

Claro que existem as pequenas rusgas. Sempre há. Todavia consigo ver os aspectos positivos na conviência e extrair o melhor. Percebo um pouco da minha história e um pouco de como eu sou e de onde vem a minha educação. Percebo como é bom estar em "casa" em família.

Afinal, não somos o que dizemos ser e sim o que queremos ser e de onde viemos. Como diria minha querida mãe em mais um dos seus ditados: "- quem sai aos seus, não degenera."

É...tenho muito que aprender ainda...

Pequenos detalhes, grandes consequências.

Vim de férias para descansar. Mudar a rotina e o ambiente. Ver pessoas diferentes e outras paisagens. Porém nem tudo na minha rotina é diferente. Por exemplo, a prática do karatê continua, sempre. Isso faz parte da minha rotina diária, como acordar, comer, beber. Espero que seja sempre assim, gostar da prática - além de tudo que vem acompanhado dela.

Na praia, em outra cidade tenho menos espaço para treinar. Então me inscrevo numa academia próxima da minha casa. No caso, uma excelente academia familiar com modernos aparelhos de musculação, sala de ginástica ampla e com muitos espelhos laterais e frontais. Porém sem tradição em Artes Marciais ou esportes de combate. Seria eu, treinando karatê sozinho naquela sala, um peixe fora d'água? sim e não.

Em academias todos estão com a mesma proposta. Cultivar uma boa saúde através do movimento. E isso acontece com o karatê, com a musculação e com a ginástica. Por isso, entre alguns olhos leigos e curiosos para direção da sala de ginástica, sigo praticando meus movimentos (kihon), kata e entradas de kumite.

Os leigos mantém uma distância respeitosa e eu procuro frequentar um horário onde a academia está mais vazia. Me sinto muito bem lá. Sem o olhar de outros lutadores e colegas praticantes, sem alunos para ensinar (no caso o aluno sou eu, de mim mesmo).

Durante o treino, executo várias vezes todos os heians para aquecer. Lento e com contagem, depois com velocidade e kime. Respirando. Relaxando, contraíndo e voltando a relaxar. Um kamae sem kamae. Então parto para os katas avançados. Os tais "katas de faixa preta" como diria uma pequena aluna minha chamada Carol. Repito os procedimentos dos katas Heians e começo a me sentir satisfeito com a execução. Quando de repente o "kata" me chama a atenção: estou errado! Como assim? errado? estou errando? onde?

E começo a contagem dos Kyodos (movimentos). E a contagem está errada! Ou estou errando na contagem ou no número de movimentos. E estava errando na contagem. Acertar a contagem me faz ter uma consciência maior de cada movimento e da sua singular importância. Repito do início e começo a acertar os detalhes.

Então outro insight (ou Satori, em japonês): dentro dos katas avançados, por mais avançado que você se considere, lá estão os movimentos básicos dos Heians e do Kihon. Lá estão bem marcados os gedan-barai, age-uke, shuto-uke, maegeri entre outros. Esses detalhes nos katas avançados podem significar muitas coisas. Meu mestre, Malheiros Sensei fala sobre a "literatura" contida dentro dos katas. Um forma dos grandes mestres se comunicarem conosco através dos tempos.

Acredito que no karatê somos sempre iniciantes. Somos sempre dependentes dos fundamentos básicos na prática. E na vida também. No dojo do Alfredo Sensei, meu outro mestre, existe um quadro que diz: "- mantenha o espírito de principiante." 

Quando somos avançados fora do dojo, mais maduros e ricos, bem sucedidos profissionalmente e tal temos uma tendência a esquecer o que passamos e de onde viemos. Temos uma leve tendência a esquecer os detalhes como cortesia, respeito, educação e amor verdadeiro ao próximo. Só que na vida não somos levados a lembrar sempre disso - principalmente quando achamos que estamos no topo.

Quando acontece da vida nos chamar a atenção, pode ser de forma trágica. Nos katas isso acontece de forma natural. E temos que valorizar esses detalhes que fazem parte da nossa formação como karateka e como seres sociais.

Como diria Malheiros Sensei (meu professor): "- Pequenos detalhes, grandes consequências".

Oss