quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Imensidão azul

Praia de Jurerê com a Ilha do Francês ao fundo
Eu tenho essa estranha mania de praticar atividades físicas. Hábito saúdavel, eu sei, porém muita gente acha estranho. Questionam como eu arrumo tempo e vontade. Eu gosto porém - com certeza - eu sei que ficar em casa dormindo, comendo, bebendo, assistindo TV ou ainda na praia atirado que nem um frango assado no sol é melhor e mais fácil. Eu me esforço para me organizar e fazer as atividades e continuar com essa hábito que me faz tão bem.

A gente acostuma com as coisas, com a inércia principalmente.

Todos os dias vou nadar no mar. Aqui em Florianópolis, praia de Jurerê, o mar é calmo e limpo. Sempre transparente com tons de azul e verde. Nado no final da tarde. Entro com óculos de natação e sunga, preparado para nadar pela orla num distância de uns 1.500 m ida e volta (o meu trajeto). Dou pequenas pausas para verificar se nenhuma embarcação está próxima e sigo nadando.



A natação foi o meu primeiro esporte. Comecei com 6 anos e parei aos 16 anos. Voltei em temporadas e nos últimos 2 anos tenha nadado na Vila Olímpica da Universidade (UCS). Adoro nadar, me faz muito bem. Eu costumo ter dores nas costas e a natação virou um "anti-inflamatório natural". Depois que nado, não sinto mais dores e a prática me proporciona um bom relaxamento.

Na praia a natação fica um pouco difícil. No mar, o ambiente muda rapidamente: vento, correntes, sol, chuva, etc. Já ouvi de pescadores que temos que respeitar o mar. Eu respeito e gosto.

Hoje na ida do trajeto, o mar estava calmo. O deslizar das braçadas eram fáceis e o tempo colaborou, sem vento nem ondas. Nadar no mar é estranho, porque a gente não enxerga nada lá no fundo. Me pergunto se não é por causa disso que os peixes tem olhos dos lados, porque quando nadamos, quebrando o mar, não conseguimos olhar para frente, somente para os lados.


Na volta do meu trajeto tudo mudou: começou a ventar e logo começou a chover. Fraco, porém chuva. E mais: o mar começou a empurrar contra o meu sentido, com uma ondulação. Pensei em desistir e ir caminhando pela praia, porém essa não era a minha proposta inicial e tinha que persistir. No mar, contra a corrente, cada 2 braçadas você volta 1. As pernas correspondem a 30% da impulsão, 60% são os braços e 10% é o balanço que você faz com o corpo e a flutuação do teu corpo.

Comecei a pensar naquela música do Cazuza "nadando contra corrente, só para exercitar" e segui. A chuva aumentou e o vento também.

Segui forçando, forçando, forçando. Olhava para um ponto de referência na praia, uma tenda verde e amarela e procurava passar por esse ponto. Baixava a cabeça e nadava, nadava. Olhava e o ponto de referência na costa continuava no mesmo lugar. Que m....eu nadava, nadava, nadava e...a tenda quase não se movia. Ou seja: eu não me movia, não avançava o suficiente. Usava todos os recursos de técnica de natação, respiração, velocidade, força, tempo e o resultado era pouco.

Quando de repente o vento muda e eu começo a deslizar mais. Passei a tenda, ufa! e sigo nadando. O mar começa a se acalmar e a chuva a ficar mais forte. Me preocupo um pouco com a história de cair raios no mar e tal, porém de forma irresponsável ignoro isso. Sigo no meu trajeto. As pessoas na beira da praia começar a fugir da chuva e eu sigo nadando.


Uns 400 m antes de eu acabar meu trajeto, começo a sentir fisgadas no corpo. Penso que deve ser a circulação sanguínea, dependendo da temperatura da água e da intensidade da atividade pode dar um pouco de coceira na pele, no início. Bom, mas isso é no início e eu já estava no fim da atividade. Então as fisgadas aumentam, parecem mordidas. Penso: "- será que estou tendo um AVC?". Então levo um choque no rosto, como uma mordida. Paro de nadar pelo susto e dor, olho ao redor e não vejo nada. Penso nos meus amigos que já morreram afogados (três). Resolvo voltar para a praia. As dores aumentam. Finalmente chego na areia e começo a caminhar de volta para casa, com dores na pele e no rosto. Olho para o chão e encontro a resposta: água viva! Uma mortinha na beira da praia. Em 15 anos de temporadas nunca tinha visto esse bicho em Jurerê. Eis que me encontrei com eles no pior momento, durante minha natação e numa forte tempestade. 

Voltei para casa, passei um creme contra queimaduras e pesquisei no Google se não iria morrer. Não, ainda não. Realmente, hoje não foi um bom dia para eu nadar e o mar tentou me avisar. Que elemento maravilhoso esse mar, infinito em tamanho e sabedoria.

Comentário 24 horas depois do Post: estou bem, não ficaram marcas de queimadura e sigo nadando no mar, agora mais atento aos elementos habitantes do mesmo.
.
Água Viva, saiba mais: http://ciencia.hsw.uol.com.br/agua-viva.htm

Um comentário:

  1. Então as águas vivas te pegaram! que bom que não era filhote de tubarão! se cuida.

    ResponderExcluir